O mundo está a corrigir os desequilíbrios externos, excepto a Alemanha

FMI aconselha economia alemã a reduzir os seus excedentes e avisa que a correcção dos défices externos em países como Portugal pode não ser sustentável.

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Christine Lagarde, directora executiva do FMI Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Os desequilíbrios mundiais ao nível das contas externas reduziram-se de forma muito significativa desde o início da crise financeira internacional, mas ainda subsiste uma excepção: os países da zona euro com elevados excedentes, muito especialmente a Alemanha.

A análise é feita pelo Fundo Monetário Internacional nos capítulos analíticos do seu relatório semestral sobre a economia mundial publicados esta terça-feira.

O FMI destaca três zonas do Globo onde, antes da crise, se verificavam desequilíbrios elevados - tanto sob a forma de défices externos pronunciados como de excedentes externos exagerados - mas que agora apresentam uma situação muito mais saudável. Nos Estados Unidos, estima o Fundo, o défice externo dos Estados Unidos, em percentagem do PIB mundial, foi reduzido a menos de metade. De forma ainda mais rápida, os países com défices elevados da zona euro (como Portugal) passaram a registar excedentes. E os países asiáticos com elevados excedentes, como a China e o Japão, reduziram também de forma significativa o seu saldo positivo com o exterior.

Olhando para os dois principais actores destes desequilíbrios, pode-se verificar que, em percentagem do PIB de cada país, o défice externo dos EUA passou de 5,8% para 2,4%, enquanto o excedente da China caiu de 8,3% para 1,9%.

No entanto, a tendência não foi universal. O FMI avisa que “os desequilíbrios continuam a ser elevados entre as economias excedentárias europeias”. A Alemanha é o grande exemplo. Ultrapassou a China como o país do Mundo com o maior excedente externo em termos absolutos, com um valor total equivalente a 0,37% do PIB global. Em percentagem do PIB alemão, este indicador passou de 6,3% para 7,5%.

O FMI aconselha estas economias como a Alemanha a “tomar passos para reequilibrar o crescimento, incluindo em alguns casos através da subida do investimento público”.

Correcção insustentável?
Um dos problemas associado à existência de países com elevados excedentes como a Alemanha, é que, para os países com défices e dívidas externas elevadas, fica mais difícil corrigir a sua situação. Por exemplo, se a Alemanha não consumir mais, Portugal tem mais dificuldade em fazer crescer as suas exportações, a melhor forma que tem de assegurar uma correcção duradoura da sua balança com o exterior.

Esta questão é, para o FMI, decisiva, uma vez que a correcção registada nos últimos anos no défice dos países da periferia europeia não pode ser ainda considerada como uma tendência sustentável. O Fundo lembra que “uma grande parte do ajustamento nos desequilíbrios foi conseguida graças a uma redução da procura nos países deficitários”. Foi o que aconteceu em Portugal, onde a redução dos salários e o aumento do desemprego fez diminuir o consumo e o investimento, o que por sua vez fez cair as importações e, assim, o défice externo.

A correcção do défice externo feita desta forma tem inconvenientes: “O papel significativo de uma procura mais fraca e dos diferenciais no crescimento nos desequilíbrios globais tem estado associada em muitas economias com custos elevados, sob a forma de desequilíbrios internos crescentes”.

E aumenta também o risco de que a melhoria do saldo com o exterior não seja sustentada. “O alargamento dos desequilíbrios internos ao mesmo tempo que os desequilíbrios externos diminuíam, criou a preocupação de que, sem novas mudanças no perfil da despesa, os desequilíbrios externos possam outra vez alargar-se, assim que os output gaps se fecharem”, afirma o FMI.

O Fundo diz que esse pode ser particularmente o caso dos países da periferia europeia, como Portugal. Os conselhos dados são, contudo, iguais aos dados no início do programa da troika: “consolidação orçamental” e “reformas estruturais”.

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