Israel mata os suspeitos palestinianos do rapto de estudantes

As duas partes retomaram esta terça-feira as negociações de paz no Cairo. Palestinianos compareceram para não darem pretextos ao Governo de Telavive.

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Vestígios da operação em que foram mortos os dois palestinianos Ammar Awad/Reuters

O diálogo chegou a estar comprometido, devido à morte de dois palestinianos, em Hebron, na Cisjordânia. Mas delegações israelita e palestiniana retomaram esta terça-feira no Cairo, Egipto, negociações indirectas para consolidar a trégua acordada a 26 de Agosto e decidiram prosseguir o diálogo no final de Outubro.

“Depois de consultas no seio da delegação palestiniana e com os irmãos em Gaza e no exterior foi decidido continuar com os encontros”, disse à Reuters Mahmoud al-Zahar, dirigente do movimento islamista Hamas, que governa a Faixa de Gaza.

Quando souberam que o Exército de Israel tinha morto dois palestinianos acusados de raptarem e assassinarem três jovens estudantes israelitas em Junho, em Hebron – no início de uma cadeia de acontecimentos que culminou com a ofensiva deste Verão contra a Faixa de Gaza – os palestinianos fizeram marcha-atrás e ponderaram não participar nas negociações.

Mas acabaram por manter os planos iniciais e comparecer, duas horas após o inicialmente previsto, nas negociações indirectas mediadas pela Egipto, para não darem qualquer pretexto a Israel para “escapar aos compromissos” assumidos no mês passado, disse Zahar.

A morte dos dois palestinianos foi anunciada pelo porta-voz do Exército de Israel, Peter Lerner, no Twitter. “Durante a noite, o Exército israelita fez uma operação durante a qual Marwan Kawasme e Amar Abu Aysha, assassinos de três jovens israelitas, foram mortos numa troca de tiros”, escreveu. A informação foi depois confirmada à rádio militar.

O governador de Hebron, Kamel Hmeid, disse o mesmo, por outras palavras, à rádio palestiniana. “É agora claro que os dois mártires, al-Kawasme e Abu Aysha, foram assassinados esta manhã durante uma operação na zona da universidade de Hebron. Condenamos este crime, este assassínio deliberado e premeditado.”

Testemunhas palestinianas citadas pela AFP disseram que a morte dos dois palestinianos, de 29 e 32 anos, foi precedida de intensa troca de tiros e que, para além de ter atacado a casa onde os suspeitos se encontravam, o Exército israelita destruiu portas de lojas das redondezas. Dezenas de jovens palestinianos atiraram pedras aos soldados. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, elogiou a operação: “Vamos continuar a combater o terrorismo onde quer que seja”.

Os palestinianos mortos nesta terça-feira eram acusados por Israel de terem raptado os três jovens, um de 19 anos e dois de 16, a 12 de Junho, quando pediam boleia perto de colonatos na Cisjordânia ocupada. Os seus corpos foram encontrados a 30 de Junho. Numa reacção ao sucedido, foi morto um palestiniano de 16. Três israelitas foram detidos e acusados deste crime.

Mas a tensão não parou de subir, levou à detenção de cerca de dois mil palestinianos e culminou com uma nova guerra, iniciada a 8 de Julho. A ofensiva israelita prolongou-se por 50 dias, provocou a morte de quase 2200 palestinianos, maioritariamente civis, e de 73 israelitas, 67 deles soldados.

Israel responsabilizou directamente o Hamas pelos raptos dos jovens israelitas e disse que os palestinianos mortos nesta terça-feira eram membros do movimento. O grupo islamista reconheceu, segundo a Reuters, que Kawasme e Aysha eram seus militantes mas declarou que a liderança não tivera conhecimento da acção contra os israelitas.

As discussões a retomar no fim de Outubro deverão incluir temas como a reconstrução de Gaza e a troca de prisioneiros palestinianos por restos mortais de soldados israelitas. A AFP noticiou que delegações da Fatah, do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, e do Hamas vão permanecer no Cairo para contactos que lhes permitam ultrapassar as suas divisões.

   


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