“Movimento que apoiou Rui Moreira tem condições para se manter intacto” até 2017

O facto de a eleição do presidente da Câmara do Porto não ter decorrido no quadro de um partido tem-lhe trazido custos de funcionamento interno no executivo. No entanto, Rui Moreira tem condições para “manter de forma intacta” o capital que foi conquistado em Setembro de 2013.

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A aliança com o PS permite a Rui Moreira ter a câmara a funcionar Adriano Miranda

Rui Moreira, o independente que os portuenses escolheram para dirigir os destinos da cidade, está debaixo de um permanente escrutínio, mas isso não o incomoda. Ancorado no Movimento “O Meu Partido é o Porto”, a sua governação é acompanhada de perto pelos eleitores que votaram nele e seguida atentamente a nível nacional onde a projecção dos interesses estratégicos dos partidos e dos seus líderes é muito evidente.

Eleito num contexto político favorável ao aparecimento de movimentos independentes dada a descredibilização dos partidos e da classe política, mas também pelo facto de uma parte significativa do PSD o ter apoiado por não se rever na candidatura de Luís Filipe Menezes, o independente Rui Moreira tem conseguido passar uma imagem de que está a cumprir o programa eleitoral a que se propôs.

A aliança com o PS permite-lhe ter a câmara a funcionar e deixa-o livre para a acção política. “Rui Moreira vai chegar ao próximo mandato e vai fazer as alianças com quem quiser, o que lhe permite fazer um segundo mandato como quiser. Isto é, nenhum dos partidos vai ter o atrevimento de apresentar um candidato alternativo a ele”, disse ao PÚBLICO uma fonte social-democrata.

Manuel Meirinho, presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) de Lisboa, afirma que o movimento que apoiou o presidente da câmara “foi dos que mais conseguiu distanciar-se da porosidade que normalmente perpassa este tipo de movimentos, que são facilmente independentes, mas que depois têm diferentes graus de entrosamento com outros partidos”. “O movimento de Rui Moreira tem condições para se manter, porque depende da maneira como é exercido o poder”, assegura ainda Meirinho.

Ao PÚBLICO, o professor de Ciência Política sublinha que “apesar de tudo o autarca não tem sofrido grande erosão com o exercício do poder”. E esse facto - frisa - “pode manter intacto o capital que foi conquistado” em Setembro de 2013. Mas Meirinho deixa um aviso: “Estes movimentos só sobrevivem se não tiverem que fazer muitas cedências aos partidos”.

Para Ana Maria Belchior, também professora do ISCSP de Lisboa, “o facto de Rui Moreira ter sido eleito com uma base de apoio heterogénea trouxe-lhe dividendos em termos de resultados eleitorais, mas traz-lhe também agora dissabores em termos de gestão de funcionamento do executivo camarário”. E explica que “a sua lista [à Câmara do Porto] não pode contar com a coesão que decorre da eleição de um executivo por um mesmo partido (ou mesmo coligação), nem Rui Moreira é incontestavelmente reconhecido como a figura que, num quadro institucional partidário, detém legitimidade e poder para gerir o executivo, ou pelo menos isso é o que deixa antever a rivalidade com o seu número dois [Manuel Sampaio Pimentel] ”.

Sublinhando que a sua eleição não decorreu no quadro de um partido, “e isso tem-lhe trazido custos de funcionamento interno do executivo”, Ana Maria Belchior observa, porém, que esse facto “não quer dizer que esta seja uma consequência subjacente aos executivos de liderança independente; quer apenas dizer que é um risco que correm”.

A investigadora do ISCSP alerta para consequências em termos do apoio social e diz que ”o eleitorado da ala do CDS que contribuiu para a eleição do presidente poderá olhar com desencanto para a tensão que se tem registado entre Rui Moreira e o vereador democrata-cristão, Sampaio Pimentel”. E conclui que “quanto às consequências para um segundo mandato, é demasiado cedo para qualquer expectativa”.

Já André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, considera que “o exercício do poder implica necessariamente compromissos e a governação de uma autarquia com a complexidade da do Porto, não é excepção”.

Em declarações ao PÚBLICO, defende que “o problema para Rui Moreira poderá colocar-se não na realização de compromissos em si mesmos, mas sim se esses compromissos forem percepcionados como colocando em causa aspectos fundamentais para a base eleitoral que elegeu o actual presidente da Câmara do Porto”.

André Azevedo Alves sustenta, por outro lado, que “para uma personalidade com o perfil de Rui Moreira, a gestão das ligações com os partidos é uma tarefa complexa, já que existe uma tensão permanente entre o perfil de independência e a realidade quotidiana dos partidos”. E neste contexto concede que “os problemas sentidos em relação ao CDS não surpreendem, ainda mais considerando o crescente peso do PS na governação da autarquia, seja por via do protagonismo público assumido pelo vereador Manuel Pizarro, seja por outras figuras que actuam nos bastidores ao nível dos gabinetes”.

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