Na hora de votar, escoceses dividem-se entre o entusiasmo e a indecisão

Campanhas do "sim" e do "não" mobilizam-se para convencer os que ainda não sabem como votar. Última sondagem atribui ao "não" 53% das intenções de voto.

Foto
A lei britânica permite contactos das campanhas com os eleitores no dia da votação AFP PHOTO/LESLEY MARTIN

Após uma das mais longas campanhas da história britânica, a Escócia encontra-se nesta quinta-feira com o seu destino. As urnas abriram às 7h e só vão fechar às 22h. Nesse intervalo, os mais de 4,2 milhões de inscritos vão dar resposta à pergunta que mantém em suspenso todo o Reino Unido: “Deve a Escócia ser uma nação independente?”

As duas campanhas mobilizaram dezenas de milhares de voluntários para um último esforço que pode ser decisivo, face a sondagens que indicam que a distância entre o “sim” e o “não” se mantém muito curta – um inquérito do centro Ipsos Mori divulgado já depois da abertura das urnas atribui ao “não” 53% das intenções de voto e 47% ao “sim”, em linha com as divulgadas no dia anterior.

A lei britânica permite o contacto com os eleitores durante o dia da votação e, até ao fecho das urnas, tanto os nacionalistas como os que defendem que a Escócia deve continuar unida a Londres vão usar o telefone, o email, as visitas porta a porta para tentar convencer os indecisos – cerca de 600 mil, segundo as últimas sondagens – ou para assegurar que aqueles que já lhes garantiram o seu apoio vão votar. Os apoiantes da independência previam contactar até 1,5 milhões de pessoas durante o dia, a campanha pelo “não” diz ter identificado 500 mil eleitores-alvo que quer contactar até ao fecho das urnas.

A campanha estende-se até à porta das 2600 secções de voto, com activistas identificados de uma e outra campanha a estenderem um último panfleto a quem entra para votar, a convencer quem pára para conversar e se mostra indeciso. “Assisti a todos os debates, mas não consegui respostas”, disse ao jornal Guardian Angela Colquhoun, auxiliar de enfermagem de Glasgow, admitindo que a hipótese de Edimburgo passar a controlar as receitas do crude extraído do Norte é um aspecto a favor da independência, embora reconheça que “o petróleo não vai durar para sempre”.

Já em cima do início da votação, a campanha pelo “sim” obteve um importante apoio. O tenista Andy Murray, campeão de Wimbledon e estrela desportiva do Reino Unido, escreveu no Twitter uma mensagem de claro apoio à independência. “Este é um dia imenso para a Escócia! A campanha do ‘não’ foi tão negativa nos últimos dias que mudou completamente a minha visão. Estou ansioso por saber o resultado. Vamos a isto”, escreveu o tenista escocês que, por viver em Londres, não pode votar.

Murray tinha recusado entrar na campanha, mas em declarações anteriores dera a entender que era partidário de manter a Escócia unida a Londres. E não escondeu o seu desagrado quando ao sagrar-se campeão em Wimbledon, em 2013, o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, que estava na tribuna de honra empunhou a bandeira nacional mesmo por trás do primeiro-ministro britânico, David Cameron.

Filas para votar
As primeiras horas de votação reforçam a convicção de que a participação no referendo desta quinta-feira será muito elevada. Nas principais cidades havia ao início da manhã filas para votar nas secções mais movimentadas, embora seja de esperar que a afluência diminua durante o horário laboral e só volte a aumentar ao final da tarde. “Este é um dia histórico para a Escócia. Esperei por isto toda a minha vida. Chegou a altura de dizer adeus à Inglaterra”, disse com orgulho o primeiro eleitor a votar numa das mesas no centro de Edimburgo e que se identificou apenas como Ron. Enquanto falava com a Reuters, dois homens que seguiam apressados para o trabalho gritavam: “Vota não”.

A campanha, que se estendeu por quase dois anos, dividiu pais e filhos, irmãos e até casais. As duas campanhas asseguram que vão respeitar o desfecho, seja ele qual for. Mas um resultado cerrado tornará mais difícil a convivência e várias igrejas programaram mesmo orações pela reconciliação para o próximo domingo. “Este é um dia muito importante. A decisão que tomarmos hoje será para a vida”, confiou à AFP Charlotte Farish, mãe de duas crianças já decidida a votar “não”.

Tanto o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, como o líder da campanha unionista, Alistair Darling, votaram pela manhã, sem declarações aos jornalistas. O silêncio é também total em Londres onde, em mais do que qualquer outro lugar no Reino Unido, se aguarda com ansiedade o resultado desta votação. A imprensa desta quinta-feira ilustra bem a inquietação nas suas primeiras páginas. “O Dia do Destino”, titula o jornal Guardian sobre uma foto de satélite da Escócia, enquanto o Daily Telegraph optou por uma fotografia onde as bandeiras do Reino Unido e da Escócia esvoaçam lado a lado acompanhadas de um poema patriótico do poeta escocês Robert Burns.

Será, no entanto, preciso esperar pela madrugada para conhecer o desfecho eleitoral. Os resultados das circunscrições mais pequenas deverão ser anunciados entre as 2h e as 3h de sexta-feira, mas só entre as 5h e as 6h serão conhecidas as votações nos círculos de Edimburgo, Glasgow e Aberdeen, os maiores da Escócia e aqueles onde será ditado o resultado final.

Sugerir correcção
Comentar