Enfermeiros mantêm greve após reunião com tutela “com base em nada”

Sindicato diz que não foram apresentados compromissos claros e com prazos. Há novo encontro na segunda-feira, a última oportunidade antes da greve de 24 e 25 de Setembro.

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Ana Rita Cavaco aos deputados: "Vi dois enfermeiros a cuidar de 57 doentes na Madeira" Nuno Ferreira Santos

Foram quase três horas e meia de encontro entre o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), o Ministério da Saúde e o Ministério das Finanças. Mas a reunião, de acordo com Guadalupe Simões, da direcção do SEP, teve apenas como propósito que a estrutura sindical desmarcasse a greve nacional de 24 e 25 de Setembro “com base em nada”. Foi marcado um novo encontro para segunda-feira, a última oportunidade de se chegar a um acordo antes da paralisação de dois dias, com a tutela a comprometer-se a entregar alguns compromissos por escrito até ao final da semana.

A carência de enfermeiros nas instituições de todo o país foi um dos pontos centrais do encontro, em que estiveram os secretários de Estado da Saúde, Manuel Teixeira e Fernando Leal da Costa, além de representantes das Finanças e da Administração Central do Sistema de Saúde. A reunião estava agendada no âmbito das negociações em curso com o SEP, mas contou com Leal da Costa na sequência de um contro relacionado com os cuidados de saúde primários e que se decidiu juntar no mesmo dia.

“Disseram-nos que neste ano já contrataram 580 enfermeiros e que até ao final do ano vão finalizar o processo de mais 345”, explicou ao PÚBLICO Guadalupe Simões, que reforçou que se congratulam com as entradas, mas que “são números que não chegam” e que nem sequer têm em consideração as saídas temporárias por motivos como baixa médica ou licenças de parentalidade. A sindicalista acusa a tutela de não se comprometer com metas a longo prazo para resolver a falta de profissionais e outras questões como a harmonização de salários de enfermeiros que na mesma categoria têm ordenados de 1000 e de 1200 euros.

Outro dos problemas está no atraso na abertura de concursos para a categoria de enfermeiro principal e no pagamento dos incentivos aos enfermeiros que trabalham nas chamadas unidades de saúde familiar nos cuidados de saúde primários, em atraso desde Julho. “Disseram-nos que os incentivos vão ser pagos, mas que estão com dificuldades em calcular alguns indicadores, mas mais uma vez não deram data. Tiveram a oportunidade de apresentar propostas, com compromissos e prazos e não o fizeram. Ninguém desconvoca uma greve com base em nada”, disse Guadalupe Simões.

Ainda sobre a falta de enfermeiros, a dirigente sindical acrescentou que “limitaram-se a dizer que vão tornar o processo de contratação mais ágil”. “Mas isso significa o quê? Ficou certo de que não vão deixar as instituições contratarem em função das necessidades, então como é que há solução?”, questionou Guadalupe Simões. Nas contas do SEP faltam 6000 enfermeiros nos cuidados de saúde primários e mais cerca de 19 mil nos hospitais. “Já nem estamos a contabilizar as necessidades dos cuidados paliativos, continuados ou da saúde mental”, reforçou, adiantando que só neste ano e em 2013 o Serviço Nacional de Saúde perdeu quase 3000 profissionais de enfermagem.

A greve nacional dos enfermeiros foi anunciada no dia 4 de Setembro, depois de um Verão marcado por paralisações isoladas em várias instituições. Na altura, José Carlos Martins, também da direcção do SEP, afirmou que o protesto foi “determinado pelo Ministério da Saúde”, por se limitar a dar “respostas políticas” às reivindicações da classe. A possibilidade da desmarcação da greve era remetida para este encontro, do qual apelavam que saíssem “compromissos claros”.

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