Pasta da Investigação, Inovação e Ciência vista como “chave” do crescimento económico europeu

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Carlos Moedas será o próximo comissário da Investigação, Ciência e Inovação Fernando Veludo/NFACTOS

A pasta da Investigação, Ciência e Inovação na Comissão Europeia, que agora vai ser liderada pelo português Carlos Moedas, é vista como a base para o crescimento da economia europeia. A actual comissária, a irlandesa Maire Geoghegan-Quinn, defende que serão estas áreas “a fornecer competitividade à economia e, com isso, empregos”. No mesmo sentido, Carlos Moedas disse nesta quarta-feira que “são a chave para aumentarmos a produtividade das nossas empresas, para competirmos pela excelência e não pelos baixos custos”. Tem para gerir cerca de 80 mil milhões de euros até 2020, um dos maiores programas orçamentais da Comissão. O ex-presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, João Sentieiro, vê a nomeação como uma má notícia.

Maire Geoghegan-Quinn, que no seu país foi ministra da Justiça e da Educação, ocupa o cargo desde 2010. O seu mandato, definido em 2009 pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, impunha como objectivos principais a criação do Espaço Europeu da Investigação, uma espécie de mercado único para a investigação e a inovação na Europa, e a promoção da “Quinta liberdade”: "A circulação livre de conhecimento, ideias e investigadores no espaço da União Europeia, com vista à especialização” e “exploração das vantagens oferecidas pela escala da União Europeia”, lê-se no documento.

Em termos práticos, esta pasta é actualmente vista como central ao futuro económico da União Europeia. Num discurso em Junho deste ano, Geoghegan-Quinn afirmou que “a ciência é a base para uma melhor economia”, acreditando que será esta a área que “vai fornecer competitividade à economia”, criando "o tipo de empregos que se consegue obter a partir da investigação e inovação, empregos sustentáveis, muito bem pagos e altamente qualificados".

No mesmo sentido, o comissário agora designado por Portugal para o novo executivo comunitário, Carlos Moedas, disse, num comunicado divulgado esta quarta-feira a partir de Bruxelas, que “a Inovação e a Investigação são a chave para o crescimento que queremos na Europa: um crescimento sustentável que promova a qualidade de vida dos Europeus”. Foi com esse objectivo que foi criado o programa Horizonte 2020, o maior programa orçamental gerido pela Comissão, que vai investir quase 80 mil milhões de euros em inovação entre 2014 e 2020, o equivalente a 8% do orçamento comunitário, refere a Lusa.

Carlos Moedas tem uma carreira profissional marcada pela passagem pelo banco de investimentos norte-americanos Goldman Sachs e um perfil político construído no gabinete de estudos do PSD.

João Sentieiro, ex-presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, olha “com grande perplexidade” para a nomeação. “Este senhor não tem qualquer aptidão para a gestão da pasta. Tem total inexperiência e ignorância no assunto. Já não estávamos bem, ficaremos pior.” Na opinião deste professor catedrático aposentado do Instituto Superior Técnico, “aumentam as perspectivas negativas para a comunidade científica europeia e portuguesa”. Carlos Moedas como comissário europeu nesta área, diz Sentieiro, representa uma visão “do papel da investigação como algo útil”, confundindo-se investigação “com desenvolvimento tecnológico”. “O risco é que a investigação não aplicável no curto prazo seja considerada inútil”. Sentieiro, que dirigiu a FCT quando Mariano Gago era ministro da Ciência e da Tecnologia, diz que “não há economia competitiva se não houver empresários para atrair os melhores, os que se doutoram. A economia depende do reconhecimento dos empresários que contratam pessoas qualificadas. Em Portugal, passámos de um país que atraía talento para outro que afugenta e até aconselha a emigrar”.

Já a actual comissária europeia desta área, que esteve em Lisboa em Abril, disse à TV Ciência existirem “enormes oportunidades e possibilidades para Portugal”. “Se olharmos para as áreas em que Portugal foi bem-sucedido no 7º Programa-Quadro Europeu, as Tecnologias de Informação e Comunicação, a Saúde e os Transportes são três das áreas em que Portugal esteve realmente bem". Também a investigação relacionada com o mar é uma área onde a comissária disse acreditar que Portugal podia assumir a liderança.

Mas a comissária também chamou a atenção para o facto de no novo programa, o Horizonte 2020, existir uma maior pressão em aproximar a investigação das empresas e do mercado. "À semelhança de muitos Estados-membros, Portugal precisa de fazer mais para juntar a academia e a indústria, mas não são os únicos a ter de fazer isso, porque muitos Estados-membros precisam de se focar mais nesse aspecto”.

Em Junho deste ano a Comissão Europeia e o Banco Europeu de Investimento lançaram novos instrumentos financeiros de apoio às empresas inovadoras, que atingem 24 mil milhões de euros nos próximos sete anos. O chamado InnovFin servirá para financiar a investigação e inovação em pequenas, médias e grandes empresas, bem como os promotores de infra-estruturas de pesquisa científica. "A União Europeia está atrasada relativamente aos seus concorrentes a nível mundial [EUA e Japão], em termos de investimento empresarial em inovação, pelo que temos de incentivar os bancos a concederem crédito a estes projectos", disse Maire Geoghegan Quinn.

0 último relatório The 2012 EU Industrial R&D Investment Scoreboard, divulgado pela Comissão Europeia no final de 2012, mostrou que em 2011 o investimento das empresas europeias em Investigação e Desenvolvimento (I&D) aumentou 8,9% – nos EUA tinha aumentado 9%. Apesar da evolução europeia, os EUA continuam a liderar no que respeita ao valor absoluto do investimento industrial em I&D e são também quem mais retorno consegue desse investimento, citou o Diário Económico.

No documento, que analisou as 1000 empresas europeias com maior investimento em I&D em todo o mundo, verifica-se que a Europa coloca no ranking 405 empresas e os EUA 503. Na lista, onde a japonesa Toyota ocupa o topo, a melhor posição para uma empresa europeia vai para a Volkswagen, que ocupa o terceiro lugar.

Apesar de quase metade do investimento em I&D feito em Portugal vir de empresas estrangeiras com actividade no país, Portugal tem seis empresas no ranking: PT, EDP, Bial, Caixa Geral de Depósitos, Crédito Agrícola e Novabase, refere o jornal.

As metas traçadas pela Comissão Europeia apontam para que a despesa portuguesa em I&D aumente para 3% do PIB nos próximos 7 anos, mas não é essa a tendência nos últimos anos. Os dados oficiais mais recentes dizem que a despesa nesta área caiu de 1,59% do PIB em 2010 para 1,52% em 2011. Os valores do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional relativos a 2012 deverão ser conhecidos em Outubro.

Notícia actualizada às 16h20. Acrescentadas declarações de João Sentieiro.

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