A marcar o ponto

O novo Woody Allen tem pouco de novo – uma comédia agradável que parece feita em piloto automático.

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Em Magia ao Luar, Woody Allen recicla o tema do ilusionismo, que serviu de pano a dois dos seus filmes anteriores, A Maldição do Escorpião de Jade e Scoop

A sensação de Woody Allen “marcar o ponto” anualmente com mais um filme não é coisa de hoje. Há mais de 30 anos que é assim, com o cineasta americano a fielmente lançar um filme por ano como se nada tivesse mudado desde os seus tempos áureos. Talvez por contraponto ao muito actual (e muito intrigante) filme imediatamente anterior, Blue Jasmine (2013), Magia ao Luar é um filme assumidamente “antigo”: uma aproximação à comédia screwball dos anos 1930, com um ilusionista misantropo e empertigado convocado por um velho amigo a fim de “desmascarar” uma pretensa médium que está a fazer furor na Côte d’Azur.

Magia ao Luar

recicla abertamente as coordenadas de dois dos seus filmes menores recentes — o meio do ilusionismo que servia de pano de fundo a

A Maldição do Escorpião de Jade

(2001) e a

Scoop

(2006) — com um olhinho posto no

Pigmalião

de George Bernard Shaw (quase jurávamos que Colin Firth baseou o seu ilusionista narcisista no professor Higgins tal como Rex Harrison o imortalizou na versão musical

My Fair Lady

). Não é um filme atípico do realizador, porque a questão central que norteia o guião é o eterno diálogo entre fé e razão, crença e pragmatismo – e parte da graça vem do confronto, muito

screwball

, entre Sophie, a encantadora americana a que Emma Stone dá luminosa vida, e Stanley, o resmungão resolutamente materialista que Firth encarna como um

gentleman

inglês da velha escola. Há, contudo, um “mas”: apesar da pontaria no elenco (Firth e Stone são um casal pouco óbvio mas estão impecáveis, e a veterana Eileen Atkins é extraordinária no único dos papéis secundários com um mínimo de peso), e apesar da fotografia luxuosa de Darius Khondji,


Magia ao Luar

está longe de ser um Allen

vintage

. Preguiçoso na encenação, previsível no argumento, surpreendentemente anónimo no modo como o écrã panorâmico e os movimentos de câmara parecem estar lá mais para “encher o olho” do que porque a história o peça, este é mais um Allen em “piloto automático”. Suficientemente despretensioso e agradável para se ver sem fastio; e isso só é um problema porque continuamos sempre a esperar de Woody Allen que não se limite a “marcar o ponto”.

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