Doente com fractura aguarda há mais de uma semana por cirurgia

Família de septuagenária diz que operação tem sido adiada por falta de recursos humanos e materiais, mas hospital de Coimbra garante que a situação se deve a razões clínicas.

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Ao nível das intervenções cirúrgicas, o documento refere a realização de 178.540 programadas (menos 1851) Enric Vives-Rubio

Uma mulher de 75 anos com uma fractura do colo do fémur está há mais de uma semana à espera de ser operada no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). A família da doente afirma que a demora na marcação da cirurgia se fica a dever à falta de recursos humanos e materiais do hospital, enquanto a unidade de saúde alega que a intervenção foi adiada apenas por motivos clínicos.

Numa carta aberta enviada à comunicação social, Guida Silva, filha da doente, conta que a mãe caiu no lar onde estava a viver e foi socorrida no Serviço de Atendimento Permanente do Centro de Saúde de Oliveira do Hospital, na madrugada de 25 de Agosto, sendo de imediato transferida para o serviço de urgência do CHUC, porque tinha sofrido uma fractura do colo do fémur. 

Segundo Guida Santos,o médico que viu e acompanhou a mãe assegurou que ela iria ser operada nesse dia, mas  a doente acabou por ser reencaminhada para o serviço de Ortopedia do hospital, onde ficou a aguardar a intervenção cirúrgica.

A justificação dada para a não marcação da cirurgia, assegura Guida Santos, foi a da  “indisponibilidade de salas no hospital e outras condicionantes”, como as “férias do pessoal e a falta de recursos”. “Um hospital que se diz de referência a nível nacional não está a dar resposta em tempo útil às situações graves e isto é gravíssimo”,  lastima Guida Santos, na carta enviada ao presidente do conselho de administração do CHUC, considerando que a demora se fica a dever “à má gestão e organização dos serviços”. 

Em resposta escrita, o gabiente de comunicação do hospital afirma que o director do serviço de ortopedia explicou que a septuagenária apenas ainda não foi operada porque estava a tomar medicamentos antiagregantes plaquetários, correndo por isso  “riscos elevados de hemorragia quer no pré-operatório, quer no pós-operatório”. Lembra que “as recomendações relativas à boa prática clínica (da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia” indicam que se deve “suspender a toma deste medicamento e aguardar por um período de segurança de cerca de 10 a 11 dias, salvo se existir risco de vida para a doente, o que não é o caso”.

Adianta, a propósito, que a cirurgia está já prevista para esta semana (dia 3 ou 4 de Setembro), “tendo em atenção a avaliação de risco que será realizada entretanto pelos ortopedistas e pelos anestesistas e, eventualmente, pelo internista”. “Os doentes são sempre tratados de acordo com as prioridades clínicas que o seu estado exige”, frisa.

Guida Silva assegura que esta explicação “nunca em nenhum momento” lhe foi avançada “nestes termos” e reafirma que na sexta-feira passada o director do serviço de ortopedia lhe disse que a cirurgia ainda não tinha sido feita “devido à indisponibilidade de salas no hospital e outras condicionantes, nomeadamente devido às férias do pessoal e à falta de recursos”. Esta foi, segundo afirma, a explicação dada  pelos serviços “ao longo destes oito dias”, sempre que telefonava a questionar o estado de saúde da mãe.

“Não é a equipa do serviço de Ortopedia D que está a agir de má-fé. A equipa tem-se empenhado e feito todos os esforços que estão ao seu alcance para que a utente seja intervencionada (…). O único problema é a má gestão/organização dos serviço”, acusa de novo. Pergunta, a propósito, por que motivo é que o hospital não transmitiu  à família “em tempo útil”  a explicação agora avançada à comunicação social.

A carta aberta foi enviada também o Presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro da Saúde, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde e a Entidade Reguladora da Saúde. 

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