O Governo líbio, demissionário e refugiado no Leste do país, reconheceu nesta segunda-feira que milícias armadas controlam as sedes dos ministérios e dos serviços públicos na capital, Trípoli.

Com o país mergulhado no caos e na anarquia desde meados de Julho, são as milícias rivais que fazem a lei nas ruas, perante a incapacidade das autoridades oficiais de restabelecerem a ordem desde a queda do regime de Muammar Khadafi em 2011, depois de oito meses de revolta armada.

Num comunicado publicado na noite de domingo para segunda-feira, o Governo provisório dirigido por Abdallah al-Theni confirmou que as milícias armadas estão a impedir sob a ameaça de força o funcionamento dos serviços do Estado.

Este Governo assumiu a gestão dos assuntos correntes depois de, na passada quinta-feira, ter apresentado a demissão ao Parlamento eleito no dia 25 de Junho e que também está refugiado no Leste do país para escapar à violência das milícias armadas – grupos com agendas distintas que lutam entre si e contra as forças do Estado.

“As sedes dos ministérios e dos serviços de Estado em Trípoli estão ocupadas por milicianos armados que impedem a entrada dos funcionários e ameaçam os seus responsáveis superiores”, refere o comunicado do Governo demissionário. O mesmo texto acrescenta que o Governo “tenta garantir de longe a continuidade desses serviços, mantendo contacto com os responsáveis dos ministérios e dos serviços de Estado”.

Theni acusou no dia 25 de Agosto os milicianos da “Fajr Libya" (Aurora da Líbia, islamistas), na sua maioria oriundos da cidade de Misurata, de terem pilhado e incendiado a sua residência no sul de Trípoli, depois de terem conquistado o aeroporto da capital aos milicianos de Zenten (nacionalistas).

Na piscina dos EUA
Foram também homens da“Fajr Libya" que anunciaram no domingo ter tomado o controlo da embaixada americana em Trípoli. Esta representação diplomática, tal como as da maioria dos outros países, encontra-se fechada há mais de um mês devido à situação de insegurança que se vive no país.

Os islamistas explicaram que entraram no complexo de várias casas para garantir a segurança do local e impedir actos de vandalismo e pilhagem. Um vídeo colocado na Internet mostra um grupo de homens, incluindo vários armados, reunidos numa varanda e à volta de uma piscina para onde alguns milicianos mergulhavam ao som dos aplausos e festejos dos seus companheiros.

A embaixadora dos EUA na Líbia, actualmente a trabalhar a partir de Malta, explicou que o que as imagens mostram é um “um anexo residencial” da missão diplomática americana. A embaixada propriamente dita “está bem guardada e não foi saqueada”, escreveu Deborah Jones na sua conta do Twitter.