Donald Tusk é o novo presidente do Conselho Europeu

Polaco sucede ao belga Rompuy e sublinha o peso de Varsóvia na política europeia, não só na economia. Federica Mogherini fica encarregada da Política Externa.

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Donald Tusk deixa a política polaca para ocupar um lugar de centro no palco europeu Laurent Dubrule/Reuters

O primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, é o novo líder do Conselho Europeu, substituindo o belga Herman Van Rompuy. O Centro da Europa dá lugar ao Leste, um país fundador a um país do alargamento. Um polaco ocupa-o numa altura em que é importante dar provas de que a União Europeia será dura para com a Rússia de Vladimir Putin.

A Polónia já teve um presidente de Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, mas o seu peso crescente e envolvimento nos debates europeus pedia uma representação maior. Este peso polaco surgiu precisamente com a eleição de Tusk e do seu partido, a Plataforma Cívica, em 2007: a política europeia tornou-se um ponto central do ministério dos Negócios Estrangeiros, a relação com a Alemanha foi estreitada, até a relação com a Rússia melhorou (até este ano).

Tusk escolheu, no entanto, sublinhar outro ponto: “O efeito mais importante da decisão de hoje é que o clube Euro e o não-euro se mantém juntos”, disse. “A moeda única não pode dividir a Europa.” 

A Polónia tem feito de uma entrada no euro uma das suas prioridades. O país diz que cumprirá os critérios em 2015, o que não quer dizer que adira nesse ano. Com Tusk na presidência do Conselho, liderará também duas reuniões anuais sobre o euro – e analistas vêem a possível entrada da Polónia na zona euro mais rápida. Aqui foi essencial que a França deixasse cair a sua objecção a um presidente do Conselho de fora do euro.

Varsóvia tem surgido como um centro de política e não só de economia na Europa, cimentando o chamado triângulo de Weimar dentro da União Europeia: Alemanha, França, e Polónia (ainda que com grandes diferenças entre eles). A notícia é ainda vista como uma vitória para os países de Leste, ex-comunistas, que ganham assim um representante de topo dez anos após a adesão.

A proximidade de Tusk com a chanceler alemã, Angela Merkel, é conhecida, e os dois falam em alemão, tratando-se por um familiar “tu” (uma objecção contra Tusk para o cargo que acabou de obter era que falava pouco inglês e nenhum francês).

Uma vez, Tusk disse mesmo numa entrevista à revista Der Spiegel que seria “incapaz” de se “zangar com Angela Merkel”, a propósito de uma discussão que poderiam ter tido sobre o medo da Polónia de uma Europa a duas velocidades (“A União Europeia não foi apenas criada para alturas boas”, comentou Tusk. “O princípio da solidariedade é o que a torna tão interessante”, disse).  

A chanceler alemã tentava há meses convencer Tusk a disponibilizar-se para suceder a Rompuy, mas ele respondia que preferia levar o seu partido a uma terceira vitória eleitoral, algo que nunca aconteceu na Polónia.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou publicamente que Tusk partilhava das suas ideias de reforma da União Europeia, tornando-se o primeiro líder a apoiar o polaco publicamente.

Na entrevista à Spiegel, a uma pergunta provocadora sobre se a Polónia se estava a tornar aborrecida, Tusk respondeu que preferia “liberalismo aborrecido a totalitarismo de direita ou socialismo excitado”, acrescentando: “Talvez seja por isso que algumas pessoas me consideram um tipo aborrecido em política. Prefiro pragmatismo a grandes desígnios visionários.”

A escolha de Tusk tornou mais aceitável a da italiana Federica Mogherini para a política externa – a sua maior fraqueza era uma posição demasiado suave para com a Rússia, mas o facto de Tusk ser polaco aplacava esta fraqueza, e tinha mesmo sido vetada quando o chefe do Governo italiano a escolheu. De resto, era preciso uma mulher e um dos cargos importantes deveria ir para uma representante de um partido de esquerda. 

Também foram apontadas a Mogherini a falta de experiência (com 41 anos e apenas seis no ministério italiano dos Negócios Estrangeiros), mas aqui também se pode contrapor que a sua antecessora, Catherine Ashton, também não tinha experiência em política externa.

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