Ikaros-Hemera aposta na angariação de investidores para o sector fotovoltaico

Empresa participada por Miguel Pais do Amaral espera aumentar facturação em cerca de 50% em 2014, para perto de 4,5 milhões de euros.

Foto
A empresa espera um aumento de facturação na ordem dos 50% este ano Rui Gaudêncio

Num sector que se “reduziu drasticamente” com a queda das tarifas bonificadas da micro e da miniprodução de energia solar, a Ikaros-Hemera “tem vindo sempre a crescer” e espera continuar a fazê-lo. “No ano passado ficámos perto dos três megawatts [MW] instalados e este ano esperamos ultrapassar os quatro MW”, disse ao PÚBLICO o director-geral, Duarte Sousa. Uma evolução para a qual contribuirá o novo modelo de negócio em que a empresa começou a apostar recentemente: fazer a ponte entre proprietários de terrenos e potenciais investidores de instalações de produção de energia solar nesses espaços.

Contas feitas, a Ikaros-Hemera, detida em partes iguais pelos belgas da Ikaros Solar e pela Quifel (de Miguel Pais do Amaral) espera um aumento de facturação na ordem dos 50% este ano, “para ficar perto dos 4,5 milhões de euros”. Com uma quota de mercado na minigeração de energia que no ano passado rondava os 10%, a empresa que fornece sistemas fotovoltaicos ao segmento empresarial (e que tem os seus principais clientes no sector agrícola e agro-industrial) tem procurado identificar proprietários de terrenos que não estando interessados em investir sozinhos na minigeração, queiram alugar o espaço a outra entidade que durante determinado período ficará com a exploração do sistema de produção (instalado pela Ikaros-Hemera), "recebendo o grosso das receitas da energia vendida à rede".

Quanto ao proprietário do espaço, recebe uma renda, que corresponde a uma percentagem dessa venda. “A nossa meta é chegar ao final do ano com três milhões de euros investidos, dos quais 70% já estão alocados”, entre projectos “já implementados e outros em fase de implementação”, diz Duarte Sousa. Os investidores podem ser particulares, empresas, gestores de património ou fundos “que têm o perfil para investimentos de baixo risco e baixos retornos”, acrescenta.

Com a aprovação da nova legislação para a produção distribuída de energia prevista para breve, o director-geral da Ikaros-Hemera reconhece que o modelo escolhido pelo Governo (que põe a tónica na produção de energia solar para autoconsumo, procurando desincentivar a venda à rede, em que as tarifas são subsidiadas) traz desafios ao sector, mas também tem méritos. O primeiro é permitir que o solar fotovoltaico passe a ser visto como “uma ferramenta de eficiência energética e poupança e largue o carimbo do subsídio”.

Outro é o de permitir que coexistam os sistemas que vendem a totalidade da energia à rede: a microgeração (associada a particulares e pequenas empresas) e a minigeração (médias empresas), que passarão a designar-se por pequena produção, que terá tarifas definidas por leilão. Mas Duarte Sousa não só teme que o tecto máximo anual de 20 megawatts estabelecido para a pequena produção possa vir a “revelar-se insuficiente para a procura”, como considera que o modelo do autoconsumo instantâneo (em que a lógica é a recuperação do investimento não pela receita da venda de energia, mas por aquilo que se deixa de pagar por ela) vá “penalizar os consumidores com perfis de consumo irregulares”. É o caso das famílias, cujos picos de consumo são de manhã e à noite, enquanto a produção de energia solar se faz durante o dia e não pode ser armazenada (o que na prática limita o nível de autonomia conseguido).

Por isso, o gestor defende que teria sido preferível que o Governo optasse pelo modelo de net metering (que usa a rede como bateria), para evitar o “desencontro entre produção e consumo”. Embora admita que o autoconsumo “é um modelo mais fácil de implementar”, tem esperança que o executivo o encare como “uma fase de transição para o net metering, que serviria muito melhor o consumidor final”.

No novo modelo, as instalações de autoconsumo também podem vender o excedente de energia à rede, mas deixam de ter tarifas subsidiadas e passam a receber o preço grossista, a que será deduzida uma percentagem de 10%. “Se eu sou penalizado por vender à rede, então a tendência será que instale sistemas de potência inferior àquela que o meu consumo permitiria”, diz Duarte Sousa. Esta limitação traz, para o sector, desafios acrescidos. Se por um lado pode desincentivar o investimento (porque os níveis de autonomia conseguidos não garantem poupanças que justifiquem a instalação), obriga também a que o sector faça um esforço acrescido de formação dos seus técnicos. “Tem de haver um correcto dimensionamento dos sistemas para evitar investimentos que correm mal” e penalizam a imagem e a credibilidade do sector, refere.

Sugerir correcção
Comentar