Quem vão ser os próximos líderes?

Decide-se hoje quem ocupa a presidência do Conselho e a representação da Polícia Externa. Há dois favoritos para o primeiro, uma forte possibilidade para o segundo. A chanceler alemã já indicou o seu candidato para presidente do Eurogrupo. Mas sendo a UE, nunca se pode excluir uma reviravolta de última hora.

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Helle Thorning-Schmidt, primeira-ministra dinamarquesa AFP
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Federica Mogherini, ministra dos Negócios Estrangeiros de Itália Giuseppe Aresu/AFP
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Luis de Guindos, ministro espanhol da Economia Andrea Comas/Reuters

Donald Tusk, o favorito de Merkel
Não fala fluentemente inglês nem francês – mas sim alemão. É em alemão que fala com a chanceler, Angela Merkel – os dois tratam-se, aliás, por tu. A boa dinâmica entre o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, e a chanceler alemã, Angela Merkel, estará por trás da insistência alemã em que o chefe de Governo ocupe o posto de presidente do Conselho europeu.

A ajudar está o peso económico crescente da Polónia, a ambição do Leste e dos antigos países comunistas que não tiveram ainda, dez anos depois de entrarem na UE, um representante num cargo importante. A maior contrariedade – o facto de Tusk ser de um país que não pertence ainda à zona euro para um cargo que tem ainda a presidência das cimeiras da zona euro – parece já ter sido esquecida. E um dos grandes projectos da Polónia é justamente a entrada no euro. Numa altura de desânimo, um entusiasmo pela moeda única não seria de desprezar.

O Reino Unido, que poderia estar reticente também por outras razões (a oposição polaca às reformas que Cameron gostaria de ver de limitação do mercado livre de trabalho na UE é a mais evidente), foi o primeiro país a apoiar publicamente Tusk.

Tusk é um político de centro-direita, da cidade de Gdansk onde nasceu o movimento Solidariedade, crente na livre iniciativa empresarial nos tempos do comunismo (teve uma empresa quando a livre iniciativa era desencorajada pelo regime comunista).

A escolha de um polaco, de um país especialmente desconfiado em relação à Rússia, para liderar o Conselho poderia servir de contrapeso à escolha de uma italiana, de um país com fortes ligações empresariais a Moscovo, para a política externa.

Helle Thorning-Schmidt, a reformadora
A primeira-ministra da Dinamarca era apontada já há algum tempo para um cargo europeu. Os países nórdicos nunca tiveram um representante de topo, e as reformas que o seu Governo fez na Dinamarca foram mais populares em Bruxelas do que em Copenhaga, onde alguns a criticam por ter acabado com o sistema social tal como era conhecido.

O facto de ser de um partido de centro-esquerda corta-lhe as hipóteses se a italiana Federica Mogherini ficar com a representação externa, porque assegura a quota da esquerda, e ontem já era dado como pouco provável que conseguisse suceder a Herman van Rompuy. Donald Tusk era considerado o favorito numa corrida que contava ainda com outros nomes em que se destacava o antigo primeiro-ministro finlandês Jyrki Katainen (centro-direita).

Dentro da Dinamarca, Thorning-Schmidt tem uma imagem elitista: a sua alcunha é Gucci Helle, e é conhecida por ter dito que nem todos os membros do partido de centro-esquerda podiam andar mal vestidos.

Depois de vencer as eleições em 2011, o seu executivo enfrentou um mar de problemas, mas parece ter conseguido uma reviravolta positiva. As reformas que o seu Governo levou a cabo – as maiores que a Dinamarca viu em 60 anos - eram necessárias para a sobrevivência do sistema de protecção social, defende.

Ela descreve-se como um produto desse sistema que permite “que uma miúda do Sul de Copenhaga como eu própria possa, sem dinheiro de casa nem nada, tirar um curso universitário, ir para boas escolas, e chegar a primeira-ministra”, disse ao Financial Times.

Thorning-Schmidt licenciou-se em Ciência Política, estudou na Bélgica, onde conheceu o marido, Stephen Kinnock, filho do antigo líder trabalhista britânico, com quem casou. Foi deputada europeia antes de ser líder dos sociais-democratas.

Federica Mogherini, a criticada
A maior parte dos observadores diz que o que a Europa precisava era de um alto representante para a política externa forte, numa altura em que a Rússia continua uma escalada na Ucrânia e assusta a Europa.

Mas o cargo deverá ir para uma especialista em relações internacionais de 41 anos que conta com apenas seis meses à frente de um ministério dos Negócios Estrangeiros. Porquê? Há várias razões, desde o velho adágio de que os Governos europeus não querem alguém demasiado forte (afinal, este é o representante de todos eles e não deverá ter demasiada iniciativa própria) até ao facto de ser preciso um equilíbrio entre representantes das várias regiões, e um certo equilíbrio entre homens e mulheres, e ainda de grupos políticos diferentes.

Uma visita a Moscovo em que a ministra dos Negócios Estrangeiros de Itália pareceu acomodar as conquistas russas na Ucrânia e apoiar um gasoduto que contornava a Ucrânia cimentou a percepção de que Mogherini era branda com a Rússia. O peso da Rússia em negócios com Itália – o Financial Times lembra que ainda recentemente a petrolífera Rosneft (alvo da mais recentes sanções dos EUA) se tornou accionista da empresa de pneus italiana Pirelli seria outra razão para este cargo não ir nem para Mogherini nem para nenhum representante italiano, sublinha o Financial Times.

As críticas a Mogherini foram de tal ordem que iam até ao que escreve no seu blogue - “Adoro viajar (para qualquer lado, em qualquer altura, de qualquer modo)”, dizia numa das entradas, num estilo que a imprensa italiana descreve como o semelhante ao que uma adolescente confiante escreveria no seu diário.

Luis de Guindos, o salvador
Quando foi escolhido para ministro da Economia de Espanha, em 2011, muitos apontaram a ironia de escolher para salvar a economia espanhola um antigo quadro do banco norte-americano Lehman Brothers entre 2006 e 2008, cujo colapso nesse ano, a maior bancarrota da História da América, deu o pontapé de saída para a crise financeira global.  

Mas o ministro usou o período seguinte para se dedicar a um centro de investigação e se tornar um dos reputados pensadores económicos conservadores de Espanha.

A emissora alemã Deutsche Welle nota a boa reputação de Guindos no estrangeiro: foi elogiado pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, como um ministro “excepcional”. A Espanha, tida como o bom exemplo em que a política de austeridade parece estar a resultar, vê assim sublinhado este estatuto com o apoio de Merkel a Guindos. A chanceler citou para além da “excelência” de Guindos num “momento difícil para a Espanha” o facto do ministro espanhol ter colaborado de modo próximo com o seu homólogo alemão para a criação da união bancária.

Guindos é tido como o responsável pela restruturação do sector bancário espanhol, com nacionalizações e restruturações – controversas por terem custado milhões aos contribuintes, mas essenciais segundo o ministro. A economia parece estar a crescer mais do que esperado, e o clima em Espanha é optimista.

O espanhol está assim prestes a seguir para Bruxelas, a maior dúvida é se o actual detentor do cargo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, que em 2013 substituiu Jean-Claude Junker (entretanto presidente da Comissão Europeia) deixará o lugar antecipadamente – o seu mandato só acabaria a meio do próximo ano e Dijsselbloem não tem dado quaisquer sinais de querer sair.

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