Presidente da Ucrânia diz que "está em curso uma invasão das forças russas"

Cidade portuária de Novoazovsk, a cerca de 20km da fronteira russa, está sob o controlo dos separatistas.

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Combatente pró-russo em Donetsk DIMITAR DILKOFF/AFP

A Ucrânia acusou a Rússia de estar a invadir o sudeste do país, em apoio dos separatistas que tomaram já uma cidade portuária junto ao Mar de Azov. O Presidente Petro Poroshenko cancelou uma viagem à Turquia, afirmando numa mensagem transmitida na televisão que “está em curso uma invasão de forças russas”.

O Conselho de Segurança e Defesa ucraniano anunciou no Twitter que a cidade de Novoazovsk, a cerca de 20km da fronteira russa, está sob o controlo dos separatistas, apoiados por tropas e tanques russos, que estão a fazer uma contra-ofensiva no sudoeste ucraniano.

Konstiantyn Elisseiev, embaixador ucraniano na União Europeia, solicitou "uma ajuda militar de urgência de envergadura" à UE  para fazer face à "invasão russa", e também que se realize uma sessão extraordinária do Conselho Europeu a 30 de Agosto, para discutir a situação no seu país. 

A Lituânia pediu entretanto a realização de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas por causa "da invasão militar evidente na Ucrânia". Maja Kocijancic, porta-voz do serviço diplomático da União Europeia, disse em conferência de imprensa que a UE está "extremamente preocupada com os últimos desenvolvimentos".

O embaixador dos Estados Unidos em Kiev tinha já denunciado o envolvimento directo nos combates de tropas e equipamento militar de Moscovo. Disse o embaixador, Geoffrey Pyatt, num post no Twitter. “A Rússia forneceu tanques, veículos blindados, artilharia e lançadores de rockets, que foram insuficientes para derrotar as forças armadas ucranianas. Portanto, agora há cada vez mais militares russos a intervir directamente em território ucraniano”. Além disso, acusou Moscovo de ter enviado “os seus mais recentes sistemas de defesa anti-aérea, incluindo o SA-22 para o Leste da Ucrânia”. Neste momento, declarou, a Rússia “está directamente envolvida nos combates.”

O líder político da República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, reconheceu que “3000 a 4000 voluntários russos se juntaram aos combatentes anti-Governo de Kiev no Leste da Ucrânia”, numa entrevista ao site Vesti.ru. “Sempre houve voluntários da Rússia, mas temos também sérvios, franceses, turcos, até um italiano com autorização de residência na Ucrânia.”

Zakharchenko explicou que o objectivo é lutar até chegar à grande cidade portuária de Mariupol, mais a ocidente. “Se tomarmos Mariupol, a segunda maior cidade da região de Donetsk, isso permitir-nos-á expandir as nossas unidades com mais 5000 ou 7000 pessoas”, afirmou Zakharchenko.

Esta cidade tem sido usada como base na região de Donetsk pelas autoridades de Kiev, depois de terem sido expulsas da cidade de Donetsk pelos separatistas.

Reviravoltas
Nesta quinta-feira, os separatistas terão tomado também uma colina a Leste de Donetsk, Savur-Mohyla, um ponto estratégico que permite o controlo de uma grande porção de território, diz a Reuters. Estas reviravoltas súbitas no terreno – quando o exército ucraniano estava a cercar e dizia estar cada vez mais perto de entrar em Donetsk – parecem ser uma confirmação de que chegaram tropas russas ao Leste da Ucrânia, salienta a agência noticiosa.

“Há equipamento militar em Novoazovsk que chegou do outro lado da fronteira há dois dias”, disse por telefone à Reuters um combatente do chamado Batalhão de Azov, que apoia o exército ucraniano. “Este equipamento tem as bandeiras da República Popular de Donetsk, mas na verdade é do exército russo”, garantiu o combatente, que não quis ser identificado. Um residente nesta cidade à beira do Mar de Azov, que só quis ser identificado pelo seu primeiro nome, Mikola, corroborou esta informação: “As autoridades nesta cidade são da República de Donetsk. Há tanques a movimentarem-se nas estradas, mas não há combates.”

Uma coluna armada que os ucranianos dizem que atravessou a fronteira russa e se dirigiu para Sul, para o Mar de Azov, manteve sob pressão Novoazovsk durante os últimos dois dias, e a queda da cidade acabou por ser confirmada por uma fonte militar de Kiev. Esta perda é um golpe para as forças do Presidente Petro Poroshenko, pois deixa vulnerável  Mariupol.

A chanceler alemã, Angela Merkel, exigiu ao Presidente Vladimir Putin uma explicação sobre as movimentações militares russas, ainda por cima logo após a reunião de alto nível de terça-feira em Minsk, que juntou os Presidentes da Rússia e da Ucrânia, numa tentativa (gorada) de tentar desbloquear a situação no Leste ucraniano.

O Presidente francês, François Hollande, que discursava esta manhã, considerou “intolerável e inaceitável” que tropas russas tenham entrado na Ucrânia, caso se verifique que essa informação é mesmo verdadeira. “A Europa vai manter as sanções económicas, e até mesmo agravá-las, se esta escalada aumentar. Não é o meu desejo, porque não são do interesse da Rússia nem do nosso interesse. A Rússia não pode esperar tornar-se uma potência do século XXI sem respeitar as regras.”

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