Oposição boicotou cerimónia mas Erdogan tomou posse como Presidente da Turquia

O primeiro acto do novo chefe de Estado é nomear Ahmet Davutoglu primeiro-ministro. É o seu delfim e já disse que mudar a Constituição para tornar o regime presidencialista é a sua prioridade.

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Erdogan e o seu delfim e próximo primeiro-ministro da Turquia ADEM ALTAN/AFP

Uns deputados da oposição abandonaram o hemicíclo e um deles atirou, em direcção do presidente do Parlamento, uma cópia do regulamento interno do órgão legislativo, outro grupo fez questão de assistir mas não aplaudir. Foi neste cenário de contestação que Recep Tayyip Erdogan se tornou, na manhã desta quinta-feira, o novo Presidente da Turquia.

Erdogan, eleito a 10 de Agosto e que sucede a Abdullah Gül, jurou fidelidade "à Constituição, à supremacia do estado de Direito, aos princípios e às reformas de Atatürk e aos princípios da República laica".

Antes da cerimónia no Parlamento de Ancara, os deputados do Partido Republicano do Povo abandonaram a sala. Um deputado deste partido atirou o regulamento interno - foi assobiado pelos representantes do Partido no poder, AKP (islamista e conservador). E os eleitos pelo Partido de Acção Nacionalista (extrema-direita) manifestaram-se não aplaudindo o novo chefe de Estado.

O primeiro acto de Erdogan como Presidente será nomear o seu delfim no AKP, Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro e pedir-lhe para formar um Governo cuja composição será conhecida sexta-feira.

Na quarta-feira, Erdogan entregou a chefia do Governo e do partido islamo-conservador a Davutoglu, que lhe dá garantia de fidelidade e a continuação das suas políticas.

Num congresso extraordinário do AKP, realizado segundo o modelo de uma convenção americana, Erdogan - que há 11 anos é o homem forte da Turquia - e o seu sucessor asseguraram às 40 mil pessoas presentes numa sala desportiva de Ancara que a transição será suave.

Candidato único nesta sucessão, Davutoglu foi formalmente eleito, por unanimidade (1382 delegados), presidente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento.

Acusado de ser um autocrata pelos seus adversários, Erdogan entregou o partido que criou em 2001 dizendo que Davutoglu não será uma marioneta na suas mãos. "A nossa causa sempre rejeitou as ambições pessoais, a arrogância, o ódio e a inveja", disse. "Os nomes mudam hoje, mas a essência, a missão, o espírito e os ideais [que defendemos] continuam".

"Chegou o momento de dizer adeus. Vocês sabem como isto é difícil para mim. Mas continuo em contacto, talvez de forma menos frequente do que antes", disse o Presidente eleito.

Erdogan, de 60 anos, foi eleito Presidente com 52% dos votos no primeiro escrutínio realizado através do sufrágio universal. Sempre exprimiu a sua vontade de manter as rédeas do poder e quer tornar a Turquia num país de regime presidencialista. Para isso, pretende modificar a Constituição para reforçar as prerrogativas do chefe de Estado, que são largamente protocolares.

Este passo, denunciado pela oposição como um novo desvio "autoritário" e "islamista" de Erdogan - também contestaram o facto de se ter mantido primeiro-ministro até ao momento de se tornar chefe de Estado -, poderá ser possível com uma vitória do AKP nas legislativas de 2015. Mas é necessária uma maioria de dois terços (367 lugares em 550) e o AKP tem neste momento 313 deputados.

Davutoglu, que tem 52 anos e é classificado como um muçulmano intransigente, já disse que a reforma da Constituição será a sua "prioridade". "Espero um grande apoio, vamos ter votos suficientes no Parlamento para mudar a Constituição", disse o delfim de Erdogan.

Num discurso cheio de referências históricas e religiosas no congresso do partido, Davutoglu prometeu aos militantes continuar o trabalho de Erdogan para "restaurar" o país. "O AKP é um partido onde a lealdade dura até à morte", disse. "Não haverá qualquer conflito entre o Presidente e o seu primeiro-ministro, vamos construir a 'nova Turquia'".

 

 
 

   





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