Schäuble diz que Draghi está a ser “mal interpretado” sobre a austeridade

Ministro alemão das Finanças destoa da leitura dada à posição de Draghi sobre as políticas orçamentais na zona euro.

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Christine Lagarde, Mario Draghi, Jean-Claude Juncker e Wolfgang Schäuble, numa reunião do Eurogrupo de 2012 Yiannis Kourtoglou/AFP

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, destoou do tom optimista com que os mercados e muitos analistas receberam esta semana as palavras do presidente do Banco Central Europeu (BCE) em Jackson Hole.

Na reunião de banqueiros centrais organizada pela Reserva Federal do Kansas na última sexta-feira, Mario Draghi veio reforçar que o banco central da zona euro está disposto a agir para impulsionar a procura na economia europeia e sugeriu que as políticas orçamentais devem desempenhar um papel mais activo na promoção do crescimento.

Para Wolfgang Schäuble, têm sido retiradas ilações distorcidas do discurso do presidente do BCE. “Conheço Mario Draghi muito bem, penso que tem sido mal interpretado”, afirmou o ministro alemão ao jornal Passauer Neue Presse, citado pela Reuters. Uma declaração com a qual Wolfgang Schäuble procura antecipar-se às vozes que, ancoradas na declaração de Draghi, possam vir reclamar maior flexibilização orçamental na zona euro.

Num sinal de euforia dos mercados depois de Draghi falar, o euro recuou na segunda-feira para mínimos de 11 semanas, as bolsas registaram ganhos expressivos e as taxas de juro da dívida acentuaram a queda, baixando para mínimos históricos (o que se repetiu no caso português na terça-feira, mas não na sessão desta quarta-feira).

Em Jackson Hole, Mario Draghi falou sobre o mercado de trabalho (era esse o tema do simpósio) e a evolução do desemprego na zona euro durante a crise das dívidas soberanas, pontuando o discurso com uma análise do impacto das políticas orçamentais e das reformas estruturais no crescimento e na promoção do investimento.

Draghi lembrou o que o BCE tem feito para estimular a economia da moeda única: mostrou-se confiante quanto à eficácia das medidas lançadas pelo banco em Junho; e afirmou que o banco central “está pronto para ajustar mais a sua política”, de forma a estimular o crescimento económico.

Numa declaração que, de resto, vai ao encontro dos seus habituais discursos após as reuniões mensais do conselho de governadores do BCE, Draghi pressionou os executivos da moeda única a aplicarem políticas estruturais. Mas acrescentou: “Há margem de manobra para alcançar uma composição das políticas orçamentais mais favorável ao crescimento.” E este foi um dos pontos do discurso a que os investidores e os analistas mais prestaram atenção.

A declaração ganhou relevância não só pelo peso que assume face às políticas restritivas defendidas pela Alemanha e seguidas na zona euro como resposta à crise, mas também pelo momento em que Draghi o afirma, agora que a promessa de dar prioridade ao crescimento, através de um pacote de emprego e investimento, foi assumida pelo presidente eleito da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que assume funções a 1 de Novembro.

Na mesma entrevista ao Passauer Neue Presse, escreve a Reuters, foram igualmente abordadas as controversas declarações contra a austeridade do ex-ministro francês da Economia Arnaud Montebourg que precipitaram uma crise política em França. Mas sobre a demissão (e a formação do novo Governo de Manuel Valls) Wolfgang Schäuble disse tratar-se de questões internas da segunda maior economia do euro.

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