Em Minsk falou-se de cessar-fogo, no Leste da Ucrânia denunciam-se novas incursões

Presidente ucraniano fala numa reunião "muito dura" com Putin, da qual resultaram sobretudo anúncios de intenção. Kiev diz que nova coluna de blindados entrou no Sudeste do país.

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Kirill Kudryavtsev/Reuters A violência no terreno tornou ainda mais tensa a reunião na capital da Bielorrússia

Em Minsk, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, prometeu apresentar um plano para um cessar-fogo na guerra com os separatistas pró-russos, dependente da aceitação de todas as partes, mas no Leste do país não há qualquer sinal de apaziguamento – esta quarta-feira, Kiev denunciou a entrada de uma nova coluna de blindados russos no sudeste do país.

“Temos informações sobre o avanço de uma coluna composta por cem veículos, incluindo tanques, blindados e camiões com lançadores múltiplos de rockets Grad na estrada entre Starobechev e Telmanov”, anunciou o comando das operações do Exército no Leste do país, num comunicado divulgado poucas horas depois do encontro entre Poroshenko e o Presidente russo, Vladimir Putin, na Bielorrúsia na terça-feira à noite.

Os militares ucranianos afirmam que a coluna “está identificada com um triângulo ou um círculo branco” e tem como destino a localidade de Telmanov, situada uns 40 quilómetros a norte de Novoazovsk, onde na segunda-feira o Exército ucraniano disse ter travado um outro grupo de blindados.

Na altura, Kiev acusou a Rússia de pretender abrir uma “nova frente de guerra” na região de Mariupol, reconquistada aos rebeldes em Junho, mas Moscovo garantiu tratar-se de mais uma acção de “desinformação” do Governo ucraniano. Jornalistas da AFP dizem ter assistido a combates entre o Exército ucraniano e os separatistas pró-russos na região de Novoazovsk, incluindo disparos de artilharia, sem conseguir verificar as informações sobre a presença de tropas russas na zona.

O Exército ucraniano diz que camiões com combatentes e seis sistemas móveis de lança-rockets Grad atravessaram a fronteira russa junto à localidade de Dibrovka, a pouco mais de cem quilómetros de Donetsk, onde na segunda-feira os rebeldes anunciaram o lançamento de uma contra-ofensiva. Nas últimas 24 horas, pelo menos três civis morreram quando um obus caiu no bairro de Petrovski, adianta a AFP.

E um dia depois de dez soldados russos terem sido capturados no Leste do país – um incidente desvalorizado por Moscovo, explicando que os militares atravessaram a fronteira “sem intenção” – o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, revelou que os serviços secretos do país confirmaram que “unidades regulares” do Exército russo “estão a operar no Leste da Ucrânia.

Movimentações no terreno que complicaram a reunião em Minsk, que Porochenko descreveu como “muito dura e complexa” e da qual resultaram sobretudo anúncios de intenção.

O Presidente ucraniano afirmou, ao final da noite, que está a ultimar um plano para “conseguir o quanto antes um cessar-fogo, o qual deve ter um caracter absolutamente bilateral”. Porochenko não adiantou pormenores e é incerto como vão reagir os separatistas que em Junho ignoraram um plano para o fim das hostilidades que lhes exigia que depusessem as armas e previa a criação de um corredor para que os combatentes vindos da Rússia pudessem deixar o país.

Putin foi breve nos comentários à proposta do homólogo, afirmando que as discussões para um cessar-fogo são um assunto que deve ser resolvido entre Kiev e as populações do Leste da Ucrânia. “Nós só podemos contribuir para criar uma situação de confiança para um processo, a meu ver extremamente necessário, de negociações”, afirmou.

Não houve, no entanto, qualquer informação sobre um dos pontos essenciais em cima da mesa – a exigência da Ucrânia para que a Rússia deixe de enviar armas e combatentes para o Leste da Ucrânia, uma acusação que Moscovo considera sem fundamento. E Putin repetiu a ameaça de aprovar medidas de retaliação ao acordo comercial assinado entre a Ucrânia e a União Europeia, na origem da disputa que levaria à mudança de Governo em Kiev e ao actual conflito no Leste.

Ainda assim, Moscovo decidiu retomar as negociações sobre o fornecimento de gás à Ucrânia, estando prevista uma reunião para sexta-feira, juntando os dois países e a União Europeia, e aceitou que a ajuda humanitária que enviar para o Leste da Ucrânia seja distribuída sob a égide da Cruz Vermelha Internacional.

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