O sonho europeu dos Olegário Vázquez começa em Portugal

Negócios do grupo mexicano vão da saúde ao turismo, passando pela banca, rádio e televisão.

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Olegário Vázquez Aldir

Internacionalizar um império com quase 30 anos de presença no sector da saúde no México era um sonho de há muito. A fronteira com os Estados Unidos levou o grupo mexicano Ángeles a querer captar para a sua rede hospitalar utentes norte-americanos acenando-lhes com preços mais baixos. Mas o verdadeiro arranque para saltar fronteiras acontece agora do outro lado do Atlântico, com o lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) aos accionistas da Espírito Santo Saúde (ES Saúde).

O que leva um grupo com interesses em áreas de negócio tão distintos como a saúde, o turismo, a banca ou a televisão a encontrar a porta de entrada na Europa através da ES Saúde? O Grupo Empresarial Ángeles (GEA), fundado e presidido pelo empresário de origem galega Olegário Vázquez Raña, já veio dizer que o conselho de administração da empresa considera o projecto estratégico. Mas tanto está por esclarecer o rumo a dar pelo GEA à ES Saúde, caso venha a concretizar-se a compra, como é uma incógnita se o grupo mexicano quer crescer na Europa noutras áreas de negócio, para além da saúde.

O que se sabe do GEA é que este é um universo empresarial que começou a ser construído por Olegário Vázquez Raña em 1986, com a compra de um hospital, e que, de então para cá, foi crescendo até se transformar num império com interesses em áreas de negócio diversas: saúde, banca e televisão.

Na saúde, é hoje o maior grupo privado do México, com uma rede de 28 hospitais distribuídos pelo país (muitos deles concentrados na capital). Ao todo, o grupo tem 3324 consultórios, 2554 camas e mais de 230 blocos operatórios. A dimensão que o grupo ganhou nos últimos 28 anos permite-lhe atender por ano cinco milhões de pessoas em consulta externa e um milhão de pacientes em serviços clínicos e de internamento, segundo mostram os dados que o grupo divulgou no prospecto da oferta preliminar sobre a ES Saúde.

Nos hospitais funcionam 18 farmácias. O negócio estende-se à exploração de restaurantes nestas infra-estruturas. E foi ainda na rede hospitalar mexicana que o grupo montou a Angeles Health International, uma empresa com sede nos EUA (mas a funcionar no México) para captar pacientes norte-americanos com um “preço de atendimento médico até 40% mais reduzido”, face ao do país vizinho.

A aposta no turismo de saúde, outro eixo do grupo mexicano, que tem ainda uma rede de hotelaria para diferentes segmentos de mercado. São 41 hotéis distribuídos por três cadeias: uma com edifícios históricos, outra com hotéis de cinco estrelas e outra de gama mais baixa.

Vinte anos depois de dar o primeiro passo no sector da saúde, o GEA acabaria por entrar no sector financeiro, ao comprar em 2006 o Grupo Financiero Multivalores e uma seguradora. Segue-se o lançamento de um banco, o Multiva. E a expansão da empresa continua, desta vez com a compra de um jornal, o Excélsior. Mas a entrada no sector da banca só surgiria depois de o grupo de Olegário Vázquez Raña estar a operar na saúde, na hotelaria e nos media.

Os interesses do GEA em ter na sua carteira de negócios um grupo de comunicação social concretizaram-se logo no início dos anos 2000, com a compra  do Grupo Imagen, que hoje detém o Excélsior, dois canais de televisão e 20 rádios (e outras 70 rádios parceiras).

Aos 78 anos, Olegário Vázquez Raña mantém-se como presidente do conselho de administração. Ao filho, Olegário Vázquez Aldir, cabe o papel de director-geral (e vice-presidente). É Aldir que agora dá a cara pelos negócios. Na quarta-feira, um dia depois de ser conhecida a oferta sobre a ES Saúde, o gestor falou à publicação do grupo Dinero en Imagen para defender a proposta. E deixar uma confissão: internacionalizar o grupo “sempre foi um sonho”.

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