Grupo mexicano comprou acções da ES Saúde até à véspera da OPA

Mexicanos ficaram com uma posição qualificada na empresa portuguesa a 13 de Agosto e voltaram a comprar acções esta semana, até na véspera da OPA, mas nada disseram antes de a operação ser conhecida.

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O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, é gerido em regime de PPP e representa 22% das receitas do grupo Daniel Rocha

O grupo mexicano Ángeles e os dois principais rostos deste grupo entraram no capital da Espírito Santo Saúde (ES Saúde) em Julho e foram reforçando as respectivas posições na empresa portuguesa até ao lançamento da oferta pública de aquisição (OPA) sobre a ES Saúde, anunciada na terça-feira. A Ángeles reforçou mesmo a posição accionista na véspera de lançar a oferta. Nessa altura, já tinha uma participação qualificada na empresa portuguesa, mas ainda não o tinha dado a conhecer.

Só na terça-feira, no prospecto da proposta da OPA, é que o grupo Ángeles fez saber que dias antes passara a ter uma posição qualificada na empresa portuguesa, dona do Hospital da Luz, em Lisboa, e do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures. Os pormenores sobre os sucessivos reforços de capital, no entanto, só agora foram conhecidos.

A ES Saúde remeteu nesta quarta-feira à CMVM o comunicado, com data de ontem, que lhe foi enviado pelo grupo Ángeles a esclarecer a participação qualificada que assumiu antes da OPA.

A 13 de Agosto, Olegário Vázques Aldir (director-geral da Ángeles e filho do fundador e presidente do conselho de administração da empresa) tinha 1,089% do capital da ES Saúde, aos quais se somavam 1,089% do pai, Olegário Vázquez Raña, mais 0,009% do que a própria Ángeles comprara ainda em Julho. Aldir compou acções entre 18 de Julho e 13 de Agosto e neste último dia foi a vez de o pai tomar posição.

Deste cruzamento de participações resultou uma posição qualificada do grupo Ángeles a 13 de Agosto. Ao todo, a esta data, a participação imputada directa e indirectamente ao grupo mexicano passou a ser de 2,187%. O avanço continuou no dia seguinte. 

Quando uma sociedade, directa ou indirectamente, passa a deter mais de 2% do capital de uma empresa cotada, a transacção tem de ser comunicada à CMVM, mas tem quatro dias para o fazer “após o dia da ocorrência do facto ou do seu conhecimento”, segundo o Código dos Valores Mobiliários. A Ángeles enviou a informação no limite do prazo, ao quarto dia útil, quando a proposta de OPA foi consumada.

A 14 de Agosto, pai e filho voltaram a comprar acções em igual número (equivalentes a 0,502% do capital cada um), aumentando a posição do grupo para 3,191%. E já esta semana, mesmo na véspera do anúncio de lançamento da proposta de OPA, a Ángeles viria a comprar mais 0,1271%, fazendo subir para 3,3181% a posição imputada à sociedade que lançou a oferta.

A concretizar-se a compra da ES Saúde, o negócio representa a porta de entrada dos mexicanos no sector da saúde na Europa. O Grupo Empresarial Ángeles está a oferecer 4,3 euros por acção, o que representa um prémio de 9% em relação à cotação da empresa antes do anúncio da OPA. A oferta avalia a ES Saúde em 410 milhões de euros e é, para Olegário Vázques Aldir, um preço elevado.

Desde que a empresa entrou em bolsa, em Fevereiro, as acções valorizaram-se 33,5%, aproximando-se do valor proposto pelo grupo Ángeles. No rescaldo da proposta de OPA, a cotação valorizou-se 8,42%, subindo para 4,275 euros na sessão desta quarta-feira.

O director-geral da Ángeles considera a oferta “alta e bastante competitiva, muito acima do preço da cotação [da ES Saúde] desde que esta empresa entrou em bolsa”. “No conselho de administração consideramos que se trata de um projecto estratégico na Europa e que, com a nossa capacidade operativa, visão de longo prazo e experiência, poderemos fazer com que este passo tão importante seja um êxito”, defendeu, citado pelo jornal mexicano Dinero en Imagen (detido pelo grupo Ángeles).

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