Há indonésios a comprar carros por escreverem no Twitter

Os engarrafamentos podem levar alguém a enriquecer? Na Indonésia, aparentemente sim, se tiver pelo menos 2000 seguidores na rede social.

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AFP

Alexander Thian (@aMrazing) criou uma conta Twitter para ajudar uma celebridade que prometeu aparecer nua numa loja se conseguisse três mil seguidores num dia. O número foi alcançado e a promessa cumprida, mas Alexander não voltou àquela rede social durante meses.

“Eu não vi o propósito do Twitter. Nao é o Facebook, que toda a gente segue feita louca. Com 140 caracteres o que é que podes fazer?”, questionou o argumentista de novelas. A resposta chegou mais tarde, quando começou a contar histórias da sua vida e do que se passa atrás do ecrã e os seus twitts começaram a ser retwittados, inclusive por figuras públicas.

“Algumas pessoas vêem um desastre como um desastre, eu vejo o lado engraçado. Gozo comigo próprio e muitos acham isso interessante”, analisa o escritor de 31 anos, que em 24 horas conseguiu “33 mil seguidores” e sem ter de “ficar nu”.

Em 2011, quando somava 3600 seguidores, recebeu o primeiro pedido de uma empresa para publicitar um evento no Twitter e ganhou 162 euros com um post. Hoje, com 410.268 seguidores, não consegue dizer para quantas empresas trabalha no Twitter, uma actividade que já lhe permitiu comprar um automóvel.

A Indonésia é o quinto país do mundo com mais utilizadores do Twitter (30 milhões) e, segundo um estudo feito pela Semiocast em 2012, Jacarta é a cidade onde mais se usa esta rede social, muito por culpa do trânsito, da elevada percentagem de população jovem e do fácil acesso à Internet e a smartphones. Daí que a aposta do Twitter em buzzers tenha começado aqui. 

Pitra Satvika, consultor de comunicação interactiva da Stratego que tem analisado o panorama das redes sociais na Indonésia, explica que “noutros países, as pessoas tendem a compartilhar links e informações via Twitter, enquanto que na Indonésia, o Twitter é usado para conversas, como um chat”.

Segundo o especialista, até os blogues foram substituídos na rede social por “kuliah twitter” (palestras twitter), isto é, longos textos divididos por twits numerados.

Um novo estilo de vida onde dramas não entram
Alexander escreve no Twitter desde que acorda, por volta das 10h, até às duas da madrugada, mas o seu prime-time é das 18h às 22h, devido ao trânsito de Jacarta, onde perder cinco horas diárias na estrada não é um caso raro. 

O escritor não sai muito, mas, tal como os seus seguidores, é precisamente quando está preso no trânsito que se torna mais produtivo nas redes sociais.

Alexander continua a encarar o Twitter como uma rede social e não como um emprego, mas está atento ao seu grau de influência no “Tweet Level” e colecciona algumas ideias de gestão de carreira. Não publicitar duas empresas concorrentes simultaneamente e testar os produtos antes de aceitar publicitá-los são apenas duas delas – a vez que assinou um contrato para escrever sobre um telemóvel que quando lhe chegou às mãos estava avariado serviu de lição.

O argumentista aprendeu também que o drama deve ser evitado. “Houve alturas em que fiquei mesmo chateado e respondi directamente, insultando quem me insultava, mas com o tempo percebi que isto é a Internet. As pessoas podem dizer o que quiserem, podem magoar-te e fugir da situação”, salienta.

Jonathan End, responsável pela estratégia digital da XM Gravity Indonésia, uma das empresas que paga a Alexander pelos seus twitts, justifica que os buzzers são “líderes de opinião” que ajudam a “amplificar” as campanhas publicitárias, dado que geram discussões em torno das mesmas junto dos seus seguidores.

Neste caso, destaca, Alexander, além de possuir “um jeito natural para iniciar conversas que apoiem a campanha”, representa um veículo para chegar aos jovens entre os 15 e os 25 anos.

Para Pitra Satvika, um buzzer deve ter pelo menos dez mil seguidores, “manter um bom relacionamento com os fãs” e adaptar as mensagens publicitárias ao seu próprio estilo para não gerar desconforto. Se um buzzer escrever 40 a 50 twitts por dia, entre estes não devem estar mais de quatro a cinco mensagens comerciais, aconselha.

Dinheiro fácil
“Ele é  sempre honesto. Gosta de rir de si próprio e é isso que eu acho realmente atractivo”, refere Jenny Jusuf (@JennyJusuf), escritora e gestora de redes sociais, também ela uma buzzer, com 15.630 seguidores.

Alexander e Jenny alimentam a sua amizade no Twitter desafiando-se continuamente, tal como aconteceu durante a entrevista conjunta ao PÚBLICO. Daí que vários seguidores pensem que eles são um casal, apesar de o argumentista já ter dito publicamente que é homossexual.

Jenny reconhece que esta situação pode prejudicar a sua vida sentimental e também não aprecia o facto de ser conhecida na rua e que lhe twittem frases como: “aprecia a tua cerveja”.

Porém, a buzzer de 29 anos, que reside em Bali e que está a participar num livro sobre redes sociais, gosta desta actividade por ser “dinheiro fácil” e por lhe permitir fazer amizades com outros internautas.

No mesmo sentido, Alexander, que pode ser visto como um dos muitos ‘self made twitters’ indonésios, dado que hoje poderia viver apenas das receitas do Twitter, remata: “É fantástico o que as redes sociais podem fazer com a tua vida”.

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