Candidato às eleições presidenciais no Brasil morre em acidente de aviação

Eduardo Campos ia a bordo de aeronave que caiu em Santos.

Fotogaleria
Eduardo Campos em entrevista ao PÚBLICO em Janeiro deste ano Nelson Garrido
Fotogaleria
Local do acidente em São Paulo AFP
Fotogaleria
Local do acidente em São Paulo AFP

O candidato presidencial brasileiro Eduardo Campos, de 49 anos, morreu nesta quarta-feira na queda de uma aeronave sobre uma área residencial em Santos, São Paulo. Além do dirigente do PSB, seis outras pessoas morreram no acidente que poderá ter acontecido devido ao mau tempo.

Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco, era um dos três principais candidatos à presidência do Brasil. Além de Campos, a bordo da aeronave, que fazia a ligação entre o Rio de Janeiro e Guarujá e que se despenhou pelas 10h00 locais (14h00 em Lisboa), seguiam outras seis pessoas. O jornal O Globo avançou que todos os ocupantes do avião morreram. Entre as vítimas estão dois assessores da campanha de Campos, Pedro Valadares e Carlos Percol, um fotógrafo, um operador de câmara e dois pilotos. Inicialmente tinha sido avançado que a mulher de Campos e um dos seus filhos seguiam também no jacto, mas foi confirmado pouco depois que Renata Campos e os cinco filhos do casal se encontram na sua casa no Recife.

O site do Estadão noticiou também que não há sobreviventes entre as pessoas que seguiam no aparelho. O Corpo de Bombeiros confirma que sete pessoas foram transportadas para hospitais da região. Tudo indica que se tratem de pessoas que se encontram nos três prédios atingidos pelos destroços da aeronave ou nas imediações.

Eduardo Campos era esperado para uma acção de campanha em Santos, mas o aparelho, um Cessna 560 XL, com lugar para dez passageiros, em que viajava perdeu contacto com as autoridades de controlo aéreo quando se preparava para aterrar. “A aeronave descolou do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá. Quando se preparava para aterrar, o avião caiu devido ao mau tempo. Em seguida, o controlo de tráfego aéreo perdeu o contacto com a aeronave”, indica uma nota do Comando de Aeronáutica, citada pelo Globo.

Elementos da campanha às presidenciais tentaram o contacto com Eduardo Campos e os seus assessores, mas não o conseguiram. A informação de que Eduardo Campos estava a bordo do aparelho que se despenhou foi avançada pelo ex-deputado Walter Feldman e por Carlos Siqueira, primeiro secretário do Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado por Campos.

A ex-senadora e antiga candidata presidencial Marina Silva, desde Abril na corrida à vice-presidência do Brasil, ao lado de Eduardo Campos, deveria ter seguido no mesmo avião que se despenhou. Silva acabou por apanhar outro voo. A candidata está em estado de choque e recusa-se, para já, a fazer qualquer declaração.

Os principais adversários de Campos na campanha para as presidenciais, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), cancelaram as acções de campanha que tinham previstas para esta quarta-feira. 

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) brasileiro e a Polícia Civil vão investigar as causas do acidente. O mau tempo poderá ter estado na origem da queda do aparelho, uma hipótese que não foi descartada pelo Cenipa. A Polícia Civil vai centrar as suas investigações em possíveis responsáveis pelo acidente.

Eduardo Campos morre no mesmo dia que o seu avó Miguel Arraes. A figura histórica da resistência à ditadura militar (1964-1985), ex-governador e presidente do PSB morreu em 2005, no dia 13 de Agosto, e era uma das principais influências políticas do candidato presidencial socialista.

Em Fevereiro, numa entrevista ao PÚBLICO, Eduardo Campos afirmou que o PT de Lula já não existia e que o Governo de Dilma Rousseff tinha-se tornado o epicentro de um bloco “conservador”. Considerou ainda Portugal uma “porta histórica” a abrir para acentuar a integração com a União Europeia e defendeu que Portugal e Brasil deveriam “jogar juntos” no aprofundamento da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).

A vida de Eduardo Campos
Eduardo Campos, economista, deputado estadual e federal, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no Governo de Lula da Silva e presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), foi eleito governador do estado de Pernambuco em 2006 — um cargo que também foi exercido pelo seu avô, Miguel Arraes, e que abandonou ao anunciar a sua candidatura à presidência do Brasil, em Abril. 

Filho de Ana Arraes, que foi deputada e agora é ministra do Tribunal de Contas da União, e do escritor Maximiniano Campos, Eduardo Henrique Accioly Campos nasceu a 10 de Agosto de 1965 na cidade do Recife. A sua vida e carreira esteve sempre ligada ao seu estado natal: foi no liceu, aos 15 anos, que iniciou o namoro com Renata, a sua mulher e mãe dos seus cinco filhos; foi na Universidade Federal de Pernambuco, onde se formou em Economia, que iniciou a sua militância política, enquanto líder estudantil; e foi no Congresso estadual que ocupou o seu primeiro cargo público, em 1990 (ano em que se filiou no PSB).<_o3a_p>

Em 1994, Eduardo Campos foi eleito deputado federal, mas em vez de assumir o cargo em Brasília, manteve-se em funções no Governo de Pernambuco, que era chefiado pelo avô, uma figura incontornável da esquerda do Nordeste brasileiro — Eduardo foi secretário do Governo e também da Fazenda na gestão de Arraes. Quatro anos mais tarde, foi o candidato mais votado em Pernambuco, e acabou por rumar à capital do país, tendo sido reeleito em 2002. Em 2005, assumiu a presidência nacional do PSB, partido que fazia parte da chamada base aliada do PT durante os mandatos de Lula da Silva.<_o3a_p>

Voltou a Recife em 2006, para tomar posse como governador. A sua gestão ficou marcada por grandes obras de infra-estrutura, como por exemplo a ferrovia Transnordestina, pelos programas sociais que levaram a uma acentuada redução dos índices de violência, e por uma atitude de diálogo e transparência com os eleitores: Campos foi o primeiro candidato a expôr as contas públicas numa página na Internet, que a organização Transparência Brasil classificou como o segundo melhor do país.<_o3a_p>

A admiração pessoal e política que Campos nutria por Lula consubstanciou-se no apoio ao Governo do PT, que integrou como ministro da Ciência e Tecnologia. No ano passado, rompeu a aliança do PSB com a Presidente Dilma Rousseff e começou a planear uma candidatura em nome próprio à presidência. No início de 2014, fechou uma parceria eleitoral com Marina Silva, quando a ecologista viu o registo da sua Rede Sustentabilidade como partido inviabilizado pelas autoridades eleitorais.

Sugerir correcção
Comentar