Medidas do BCE ainda não travaram queda da inflação

Taxa na zona euro baixou de 0,5% para 0,4% no mês de Julho.

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Mario Draghi, presidente do BCE

Quase dois meses depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter anunciado uma nova descida das taxas de juro e novas medidas para estimular o crédito na zona euro, o indicador que mais preocupa os responsáveis pela política económica europeia continua sem dar sinais de recuperação. A taxa de inflação na zona euro baixou, durante o mês de Julho, de 0,5% para 0,4%, anunciou Nesta quinta-feira o Eurostat.

É o décimo mês consecutivo em que a inflação na zona euro se situa abaixo de 1%, ficando agora ainda mais distante do objectivo de estabilidade de preços definido pelo BCE e que é de um valor no médio prazo abaixo, mas próximo de 2%.

O problema com esta inflação baixa durante um período de tempo tão longo é que se arrisca a influenciar as expectativas das empresas e das pessoas em relação à evolução dos preços, criando as condições para que a Europa possa cair na armadilha da deflação. Este fenómeno, de descida persistente dos preços, faz com que o investimento e o consumo estagnem e a economia fique com grandes dificuldades em recuperar. Entidades como o FMI têm mostrado estar preocupadas com esta possibilidade na zona euro. E o BCE, ele próprio, também já deu sinais de que considera a deflação uma ameaça.

Na reunião do Conselho de Governadores de Junho, Mario Draghi anunciou a descida da taxa de juro de refinanciamento do BCE para 0,25%, ao mesmo tempo que colocou a taxa de juro dos depósitos em terreno negativo. Ao mesmo tempo, decidiu lançar novos empréstimos de longo prazo para os bancos europeus, o que torna o acesso a financiamento por parte do sector ainda mais fácil, com a condição de que estes usem o dinheiro para conceder empréstimos às empresas.

Desde o momento que as medidas foram anunciadas até agora, os responsáveis do BCE, com especial destaque para o vice-presidente Vítor Constâncio, têm repetido que é preciso esperar algum tempo até que as medidas comecem a produzir resultados.

No entanto, nos mercados, a ideia prevalecente é que, mais tarde ou mais cedo, o BCE terá de ir mais longe. Se é verdade que alguns indicadores, como o da confiança dos investidores e dos consumidores europeus ou mesmo os do desemprego (que em Junho registou uma descida na zona euro), até estão a registar melhorias, o facto de a taxa de inflação ter continuado, em Julho, a sua trajectória descendente apenas faz aumentar a pressão sobre o banco central para que actue de uma forma mais decidida.

“Os números agora conhecidos não dão qualquer garantia de que a zona euro esteja a afastar-se da zona de perigo da deflação. Além disso, com a escalada do conflito com a Rússia a afectar as perspectivas de crescimento, parece improvável que o receio de deflação desapareça muito rapidamente”, afirmam os analistas do banco ING numa nota enviada aos seus clientes.

Ir mais longe para o BCE significa, nesta fase, lançar um programa agressivo de compra de activos nos mercados, ao estilo do que foi feito nos Estados Unidos e no Reino Unido. Mario Draghi já assumiu que uma medida desse tipo está já a ser preparada pelo BCE, limitando-o no entanto a compras de títulos que agreguem créditos concedidos pelos bancos às PME. No entanto, se a luta contra a deflação subir realmente de tom, o BCE poderá ter de iniciar a compra de obrigações, tanto do sector privado, como do sector público.

Ainda assim, entre os analistas, não se espera que o BCE tome novas decisões na sua reunião marcada para a próxima semana. Qualquer alteração de rumo, terá de esperar mais algum tempo.

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