Presidente da TAP diz que a greve dos pilotos se deve a política nos sindicatos

Fernando Pinto recusa termo “cancelamento” para o que tem acontecido aos voos e prefere falar em “reestruturação dos voos”. E garante que a turbulência na empresa não prejudica a privatização.

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TAP diz que está a tentar obter segundas vias dos documentos Nicolas Asfouri/AFP

Não será um desentendimento entre os pilotos e a TAP, mas antes uma questão política dentro dos sindicatos, que até estão em período eleitoral. Esta é a forma de Fernando Pinto, presidente da transportadora aérea, desvalorizar a greve agendada para 9 de Agosto.

Questionado sobre as queixas dos pilotos que motivam a actual greve de zelo que dura há alguns meses e que também levaram ao agendamento de 24 horas de greve para 9 de Agosto, o gestor da TAP afirmou que os pilotos “não fazem essas queixas directamente” à empresa. E colocou o ónus dos problemas nos sindicatos.

Fernando Pinto realçou que os pilotos são representados pelos sindicatos que estão numa “fase aguda, de negociação” porque haverá “eleições no sindicato brevemente”. Portanto, este período de contestação mais acesa “tem todo um aspecto político dentro disso”. “Nós não podemos deixar que o movimento sindical tenha influência sobre a imagem do grupo como um todo”, avisou.

Admitindo, no entanto, que “todo o piloto terá o seu nível de reclamação”, o presidente da TAP preferiu elogiar os seus trabalhadores. “Nós temos um grupo de 900 pilotos, em que a grande maioria, numa época dessas principalmente, trabalha muito e tem uma dedicação muito grande à empresa. São dos melhores profissionais que nós temos e têm trabalhado para o crescimento da TAP, têm participado, têm vestido a camisola.”

Mas Fernando Pinto também sabe que será “muito difícil” conseguir negociar de forma a acabar com a greve. “Tentámos resolver o problema da greve de zelo – que influenciou muito os atrasos que tivemos – através de uma negociação de 14 pontos que o sindicato colocou. Dos 14, acabámos por atender 12.” Mas ao contrário do que a administração pensava, a assembleia de sindicatos acabou por considerar insuficiente. Afinal, diz Fernando Pinto “eram muitos mais razões de política interna sindical” do que as exigências que estavam nesses 14 pontos.

O que fazer então? O presidente da TAP diz que a empresa não tem outra solução que não seja ser “prudente” e preparar-se para a greve, “preparando os passageiros e preservando a imagem”.

Sobre as compensações para os trabalhadores devido ao trabalho excessivo, Fernando Pinto afirma-se delimitado pela pouca margem que as regras do Orçamento do Estado lhe deixam. “Precisamos entender que somos uma empresa do Estado e temos uma série de restrições (…) Nós estamos muito tolhidos pelo próprio Orçamento do Estado de fazer algum tipo de acção que esteja dentro da lei.”

Sobre a cerca de meia centena de voos que acabaram por não se realizar na última semana, o gestor da TAP garante que não se tratou de “cancelamentos”, mas sim de uma “reestruturação dos voos”. Numa primeira fase houve de facto o cancelamento de voos quando os passageiros já estavam no aeroporto, mas agora, defende o presidente da transportadora, está em andamento há 15 dias um programa de realocação de passageiros a outros voos.

Recusando considerar precipitadas as declarações de membros do Governo no sentido de que a situação dos voos da TAP põe em causa a “credibilidade do país”, como fez o ministro da Economia, Fernando Pinto admitiu, no entanto, que isso “tem efeito na imagem” da empresa. E justificou que houve 15 dias problemáticos, com uma série de atrasos, que estiveram relacionados com o Mundial de futebol.

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