Moviflor tenta acordo com investidor para cumprir plano de viabilização

Trabalhadores não receberam valores previstos no plano de pagamento aos credores, aprovado em Dezembro, e ponderam pedir insolvência da empresa.

Foto
A Moviflor tem mais de 1400 credores e as dívidas ascendem a 147 milhões de euros, com o fisco e a Segurança Social a encabeçarem a lista PÚBLICO/Arquivo

Sete meses depois de ter sido homologado, o Plano Especial de Revitalização (PER) da Moviflor ainda não foi implementado, mas a empresa garante que está “em fase final de preparação”. A administração está a tentar chegar a acordo com um investidor estrangeiro que, através de uma injecção de capital, permita concretizar os pagamentos previstos aos credores, nomeadamente aos trabalhadores.

As medidas previstas no plano de recuperação, aprovado em Dezembro do ano passado, incluíam o pagamento dos salários em atraso, com um período de carência de seis meses depois da homologação do PER e em seis prestações “iguais e sucessivas”, o que não sucedeu até agora. A administração da empresa garantiu que o plano está prestes a “arrancar”, sendo depois possível “resolver o problema dos trabalhadores”. De acordo com a mesma fonte, estará prestes a entrar no capital da Moviflor um investidor estrangeiro, cujo nome preferiu não revelar.

“Ainda não há nada fechado, mas poderá acontecer nos próximos dias. Só através da entrada de capital se conseguirá relançar a empresa com qualidade”, referiu, justificando o facto de o plano de pagamentos não ter sido concretizado com a ausência de financiamento. “Não tivemos financiamento, nem mesmo o que estava previsto no plano”, no valor de quatro milhões de euros, explicou.

A Moviflor tem mais de 1400 credores e as dívidas ascendem a 147 milhões de euros, com o fisco e a Segurança Social a encabeçarem a lista. Recorreu ao PER, um mecanismo alternativo à insolvência mas que também corre nos tribunais, para recuperar financeiramente e tentar manter os 865 postos de trabalho em Portugal. Contudo, a solução prevista no plano, aprovado com 80% dos votos, passa pelo despedimento de 320 trabalhadores e o encerramento e substituição de várias lojas.

De acordo com o Sindicato do Comércio e Serviços de Portugal (CESP), já foram despedidos 200 funcionários e a empresa tem, actualmente, 500 pessoas em todo o país. O PER previa o encerramento de cinco a seis lojas de um total de 24 e o redimensionamento das restantes. O CESP vai reunir para decidir “a forma de luta” e admite que os trabalhadores poderão avançar com um pedido de insolvência, o que até agora não sucedeu. “Esperemos que isso não aconteça e que o problema fique resolvido”, disse Marisa Ribeiro, dirigente do sindicato. Os cerca de 500 trabalhadores aguardam pelo pagamento de 25% do salário de Maio e a totalidade do de Junho. A estes valores somam-se os créditos incluídos no PER.

O processo de despedimento colectivo arrancou a 14 de Janeiro deste ano e o despedimento dos 200 trabalhadores foi formalizado um mês depois. Carlos Cintra Torres era o administrador judicial provisório, mas a sua função terminou quando o PER foi aprovado. O economista admite que tem sido contactado por trabalhadores, credores e advogados a pedir esclarecimentos, tendo mesmo reunido com um dos bancos credores, que preferiu não identificar.

Marisa Ribeiro conta que a situação actual dos trabalhadores é dramática e que, nas lojas, “não há material para vender”. “Só um ou dois fornecedores está a entregar material. O que existe é o que está em exposição. Como se pode querer que uma empresa seja viável sem mercadoria?”, questiona, culpando a banca por não ter injectado dinheiro na Moviflor.

Quando o PER foi aprovado, a empresa assegurou que seria feito “um reforço da estrutura financeira com capitais próprios, amortização do passivo, financiando meios libertos negativos” entre 2013 e 2015. O aumento de capitais próprios seria concretizado através da doação em espécie de imóveis detidos pelos accionistas, no valor de quase 1,1 milhões de euros. Recorde-se que Catarina Remígio, que fundou a empresa aos 19 anos, é a principal accionista, detendo uma participação de 81,9%.

Para eliminar “défices de exploração crónicos”, seriam encerradas ou substituídas lojas. Os entrepostos logísticos também iriam sofrer cortes. O PER, um dos maiores já aprovados em Portugal, não abrange as operações que a empresa tem em Angola e Moçambique, onde está em regime de licença e como fornecedora de produtos.

A Moviflor não conseguiu travar os efeitos da crise financeira, da queda de consumo e da forte concorrência do Ikea e socorreu-se de um plano de recuperação para dar a volta ao negócio. No documento, a situação actual da empresa portuguesa é atribuída a um “acentuado desequilíbrio financeiro estrutural”, provocado por um “forte investimento e correspondente a uma deficiente cobertura do activo não corrente por capitais permanentes”. Ao mesmo tempo, foi prejudicada por “fortes restrições na obtenção de crédito, agravado pelo reembolso de várias linhas de crédito a bancos estrangeiros e impossibilidade de renovação e reforço do financiamento”.

Sugerir correcção
Comentar