Este canadiano já tinha vivido de tudo no ciclismo. Foi campeão nacional de contra-relógio oito vezes. Venceu o UCI America Tour (2006-2007), um circuito continental que funciona à base de pontos conquistados em corridas por todo o território americano. Viu-se transformado numa musculada personagem de BD, com assinatura da Marvel, quando correu na Symmetrics Cycling. Conquistou a medalha de prata nos Mundiais de contra-relógio de 2008, mesmo tendo pedalado os últimos seis quilómetros no circuito de Varese com uma bicicleta suplente, depois de ter furado.

Mas até ao ano passado Svein Tuft nunca tinha estado na Volta à França. Aos 36 anos, e sem mais nada para provar, o canadiano viu ao Orica-GreenEdge reconhecer-lhe o valor que outros não conseguiram ver. E, espante-se, tornou-se no mais velho rookie da era moderna no Tour. Seria apenas mais um pormenor curioso numa vida recheada deles.

Neto de Arne Tuft, um esquiador olímpico norueguês, Svein nasceu a 9 de Maio de 1977, em Langley. Dos antepassados herdou a dureza, que contrasta com a sua personalidade cool. As suas histórias são quase lendárias no pelotão. Aos 15 anos, desistiu da escola para viajar e acampar com um gigante cão chamado Bear (Urso). Os anos seguintes passou-os a fazer escalada e longas viagens de bicicleta, como aquela de centenas e centenas de quilómetros até ao Alaska. Um dia, uma corda rebentou, e ficou horas preso num penhasco. E viveu num atrelado atrás da casa do patrão da Symmetrics Cycling.

Talvez por isso, Tuft nunca fantasiou com a mais importante prova de bicicletas. “Nunca cresci com o ciclismo como a minha primeira 'cena'. Estar no Tour nunca foi um sonho de criança, nem nada parecido”, confessou quando se estreou na prova no ano passado. No entanto, hoje, o ciclista da Orica-GreenEdge percebe perfeitamente onde está. “Adoro passar tempo em casa, mas não poderia pedir nada melhor do que isto neste momento”.