Gestão controlada na ESFG atira acções do BES para queda de 7,6%

Incerteza volta a pairar sobre o banco, que pode sofrer mais impactos da exposição aos negócios da família Espírito Santo.

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Títulos do BES têm a maior valorização esta manhã na Bolsa de Lisboa Paulo Ricca/PÚBLICO

Quando se pensava que a situação do Banco Espírito Santo (BES) estava estabilizada e que o foco das atenções se tinha virado para os outros negócios da família, eis que as nuvens de incerteza voltam a virar-se para a instituição liderada por Vítor Bento.

Nesta sexta-feira, os títulos do BES, que nos últimos dias tinham registado valorizações, voltaram às perdas. E significativas. Um recuo de 7,6%, para 0,450 euros, distantes dos 0,487 euros que as acções do banco tinham batido na quarta-feira passada.

Apesar dos esforços que estão a ser feitos para separar o caminho do banco dos percursos dos restantes negócios da família Espírito Santo, há muitos nós que ainda não foram desatados. E o anúncio, na quinta-feira, de que o ESFG - Espírito Santo Financial Group (que controla 20,1% do capital do banco) pediu também adesão ao regime de gestão controlada com protecção dos credores veio agravar os receios sobre os impactos que a implosão do GES poderá ter na instituição financeira.

A opção do ESFG segue-se a pedidos idênticos formulados, igualmente no Luxemburgo, pela ESI - Espírito Santo Internacional (cabeça do grupo) e pela Rioforte, onde estão concentrados os negócios não financeiros do clã. No comunicado, a empresa justifica a decisão “devido ao facto de não estar em condições de cumprir as suas obrigações no âmbito do programa do papel comercial, nem as obrigações relacionadas com as suas dívidas.”

Este pedido agrava o quadro de impactos que os problemas no GES podem ter no Banco Espírito Santo. A instituição já tinha reconhecido uma exposição directa aos negócios do grupo que ascende a cerca de 1200 milhões de euros, a que se somam cerca de 300 milhões à Escom (que geria os negócios em Angola e está envolvida num complicado processo de venda à Sonangol).

Mas agora o problema agrava-se porque os clientes do retalho do banco são credores de cerca de 750 milhões de euros referentes a papel comercial e obrigações de holdings do grupo Espírito Santo que foram adquiridas aos balcões do BES e que estão todas em regime de protecção dos credores.

O banco assumiu, recentemente, que iria ressarcir os seus clientes do retalho à medida que esses produtos atingissem a maturidade e que, depois, executaria a garantia de 700 milhões de euros que o ESFG emitiu precisamente para acautelar estes pagamentos. Mas ainda antes do pedido de gestão controlada. Com a mudança de quadro, essa execução fica adiada não se sabe para quando e também não é certo se o ESFG dispõe de activos que possam vir a cobrir todos os seus compromissos.

Produtos semelhantes de holdings do GES foram colocados pelo banco junto de investidores institucionais, num valor que ultrapassa os 2000 milhões de euros. Mas, neste caso, o banco não se sente responsável pelas aplicações, considerando que se trata de “investidores qualificados de acordo com os critérios legais aplicáveis e, portanto, com maior capacidade de avaliação do risco”.

O banco vai divulgar resultados na próxima quarta-feira e é provável que os prejuízos possam chegar aos mil milhões de euros. O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, Carlos Tavares, afirmou no Parlamento, na quarta-feira passada, que há “informação relevante” sobre o BES que ainda não foi divulgada e que há índicios de prática de crimes que estão a ser investigados. Estas declarações acabaram também por pressionar as acções em baixa.

Apesar de ter anunciado que dispõe de uma almofada de capital de 2100 milhões de euros, o BES poderá não escapar a um aumento de capital ou, então, ao recurso à linha de recapitalização pública da banca. Definir qual o caminho a seguir será, neste momento, uma das prioridades da administração, que já disse que a recuperação da confiança dos mercados é fundamental. No caso de haver um reforço de capital no mercado, ele não deverá ser inferior a 2000 milhões de euros.
 

   

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