EUA e países emergentes fazem FMI rever em baixa previsão para a economia mundial

Fundo Monetário Internacional mantém crescimento da zona euro este ano em 1,1%, com ritmos diferentes de retoma entre os países.

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O desempenho mais fraco do que o previsto dos Estados Unidos e de algumas das principais economias emergentes do planeta levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a rever em baixa esta quinta-feira as suas projecções de crescimento à escala mundial para este ano.

Na actualização das suas previsões, a instituição com sede em Washington passou agora a apontar para um crescimento da economia mundial em 2014 de 3,4%, o que compara com os 3,7% que tinham sido avançados em Abril, quando as previsões de  Primavera foram divulgadas. Para 2015, o FMI mantém a previsão de variação do produto interno bruto (PIB) global em 4%.

Esta correcção não significa, contudo, que todo o mundo esteja a passar pela mesma tendência de deterioração das expectativas. A diferença de ritmos entre as diversas regiões é, aliás, o facto mais saliente das novas previsões do Fundo. E apesar na revisão das previsões para o globo, diz o FMI, estão principalmente “o legado de um primeiro trimestre fraco, particularmente nos Estados Unidos, e um cenário menos optimista para diversos mercados emergentes”.

Os Estados Unidos contribuem de forma decisiva para a revisão em baixa das previsões. O FMI apontava em Abril para que a maior economia do planeta crescesse 2,8% este ano. Afinal, serão apenas 1,7%. O problema, explica o relatório, é que os stocks acumulados pelas empresas no final do ano passado era, afinal, maior do que o esperado, o que fez com que nos primeiros meses de 2014, as empresas tivessem produzido e investido menos. Além disso, um Inverno particularmente rigoroso prejudicou igualmente o andamento da economia.

Nos países emergentes, os problemas sentiram-se de forma especialmente aguda no Brasil e na Rússia. O Brasil continua a sofrer com o facto de o banco central estar, num cenário de inflação crescente, a fazer subir as taxas de juro, o que tem afectado fortemente o investimento e o consumo. Na Rússia, a economia praticamente estagnou (o FMI prevê agora um crescimento de 0,2% este ano), afectada com a instabilidade e sanções económicas trazidas pela crise na Ucrânia.

E são precisamente os factores de ordem geopolítica que constituem para o FMI um dos factores de risco adicional para as novas previsões económicas, uma vez que podem conduzir a um aumento dos preços do petróleo, deteriorando uma situação em que as economias avançadas revelam dificuldades em arrancar apesar das taxas de juro muito baixas.

Europa a várias velocidades
Ainda assim, para o Fundo, a segunda metade deste ano será de melhoria das condições económicas à escala mundial. E a Europa, com o Banco Central Europeu a aumentar o nível de estímulos que oferece à economia, será uma das regiões que beneficiará deste cenário.

Nas previsões do Fundo, a zona euro continua, entre as chamadas economias avançadas, a ser a que menos cresce: 1,1% em 2014 e 1,5% em 2015. Mas pelo menos não foi agora alvo de revisões em baixa.

Isso aconteceu porque, os piores resultados de alguns países foram compensados pela melhoria da conjuntura noutros. Pela positiva destacam-se a Alemanha, que continua a suportar a retoma moderada da zona euro, e a Espanha, que representa nestas previsões o desempenho melhor que o esperado das economias da periferia (o FMI não actualizou agora as suas estimativas para países de menor dimensão, como Portugal, a Grécia ou a Irlanda). Pela negativa, destacam-se a França e a Itália, que este ano crescem abaixo de 1%, superando apenas por pouco essa marca em 2015.

A persistência de uma zona euro a várias velocidades é aliás notada pelo FMI no seu relatório, lembrando que continua a fazer-se sentir uma “fragmentação financeira”, ou seja, que os diferentes países, apesar de terem o mesmo banco central, continuam a registar taxas de juro muito diferentes, o que afecta o ritmo a que conseguem crescer.

Aos bancos centrais, o FMI mantém o seu conselho para que continuem a oferecer condições para que as economias recuperem. O Fundo diz que, apesar das taxas de juro muito baixas, os países avançados ainda não revelam uma retoma da procura significativa. E, em resposta aos que dizem que os juros baixos constituem um risco para a estabilidade financeira internacional, o FMI diz que o que é preciso fazer nesta fase é, não subir as taxas, mas sim “completar a reforma da regulação financeira e desenvolver e aplicar os instrumentos macroprudenciais”.
 

   

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