Representantes da aviação denunciam "ausência de coordenação internacional clara"

Associação das Companhias Aéreas Europeias quer "debate urgente" sobre segurança no espaço aéreo e sindicato britânico dos pilotos diz que falhas na Ucrânia "poderiam facilmente repetir-se em outras áreas de conflito".

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O desastre do voo MH17 fez 298 mortos BULENT KILIC/AFP

Uma semana depois do desastre do voo MH17 da Malaysia Airlines, que terá sido abatido por um míssil numa região da Ucrânia onde há combates desde o início de Abril, organizações internacionais começam a questionar a forma como as companhias aéreas traçam as rotas dos seus aviões.

Para a Associação das Companhias Aéreas Europeias (AEA, na sigla original), a queda do Boeing 777 na província de Donetsk, perto da fronteira com a Rússia, tornou "urgente um debate internacional sobre as directivas que orientam a segurança do espaço aéreo". Num comunicado divulgado nesta quinta-feira, a AEA lembra também o recente cancelamento de voos para a capital de Israel, outra zona do planeta marcada por combates.

"Ao prepararem os seus planos de voo, as companhias aéreas devem poder basear-se em avaliações de risco independentes e não apenas em informações fornecidas por governos e autoridades de controlo de tráfego aéreo", defende a associação das companhias europeias, de que a TAP faz parte.

O presidente executivo da AEA, o holandês Athar Husain Khan, considera que chegou o momento de se lançar "um debate sobre a segurança do espaço aéreo", e insta a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla original) a fazê-lo.

Mais cáustico foi o secretário-geral do sindicato britânico dos pilotos. Num comunicado publicado no site do British Airline Pilots Association (Balpa), Jim McAuslan afirma que os pilotos não têm condições para traçar planos de voo com a certeza de que todos os factores de segurança foram ponderados e diz que esses planos são influenciados por "pressões comerciais".

"Os pilotos precisam de se sentir confiantes de que tomaram as decisões certas. O processo que leva à escolha das rotas baseia-se numa avaliação de riscos; tanto nos conselhos que os serviços de segurança da aviação de um país dão às companhias aéreas, como na forma como as companhias avaliam esses conselhos", explica o secretário-geral do sindicato britânico.

"A abordagem da avaliação de risco pode dar uma ilusão de segurança, mas é na verdade vulnerável a todo o tipo de influências, incluindo pressões comerciais, e por isso não é uma surpresa que haja diferenças na forma como esses riscos são avaliados por diferentes companhias aéreas", afirma Jim McAuslan.

O representante dos pilotos britânicos conclui que a avaliação de riscos feita pelas companhias aéreas hoje em dia "não é suficiente". "Os passageiros e os pilotos querem um nível de segurança uniforme, e não um que seja decidido em segredo", acusa McAuslan, que admite a repetição de casos como o do voo MH17 em outras áreas de conflito, se nada mudar nos próximos tempos.

"Apesar de a responsabilidade dos homicídios da semana passada ser das pessoas que, aparentemente, lançaram um míssil contra um avião comercial, isso não pode impedir-nos de nos debruçarmos sobre as falhas que levaram a esse desfecho; falhas que poderiam facilmente repetir-se em outras áreas de conflito."

Ao admitir a "ausência de uma coordenação internacional clara", o sindicato britânico Balpa espera uma resposta da Organização da Aviação Civil Internacional, à semelhança do apelo lançado pela Associação das Companhias Aéreas Europeias.

"O problema da ausência de uma coordenação internacional clara para evitar operações sobre o Leste da Ucrânia tornou-se agora tragicamente óbvio, e para evitar que esta situação se repita a ICAO deve ter mais poderes para declarar a falta de segurança num determinado espaço aéreo", lê-se no comunicado do sindicato britânico.

Na quinta-feira da semana passada, imediatamente antes e depois da queda do avião da Malaysia Airlines na Ucrânia, vários aviões comerciais sobrevoaram a região controlada pelos combatentes separatistas pró-russos que lutam contra o Exército ucraniano pela independência das províncias de Donetsk e Lugansk. Poucos dias antes, um avião de transporte militar An-26, da Força Aérea da Ucrânia, foi abatido na mesma zona.

A ICAO chegou a emitir um aviso sobre a situação de segurança na Ucrânia, mas – para além de ser apenas um aviso – dizia respeito à área de Simferopol, na sequência da anexação da península da Crimeia pela Rússia, e o Boeing 777 da Malaysia caiu fora dessa região.

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