Avião da Air Algérie que caiu com 116 pessoas a bordo estava em “bom estado”

Presidente do Mali e general do Burkina Faso anunciaram que foram encontrados destroços mas indicam localizações diferentes. Testemunha disse ter visto avião “cair”. Queda de MD 83 no Norte de África culmina semana negra para a aviação civil.

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O avião da Air Algérie que, esta quinta-feira, caiu no Mali, com 116 pessoas a bordo – e de que ao princípio da noite foram encontrados destroços – estava em “bom estado” quando, “há dois ou três dias”, foi examinado pelas autoridades francesas de aviação civil.

Depois de uma reunião com o Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, ao final do dia, o general Gilbert Diendiéré, chefe da casa militar do chefe de Estado, disse à imprensa que foram encontrados destroços. Não adiantou qualquer informação sobre as pessoas que seguiam a bordo nem sobre eventuais causas da queda.

"Acabamos de encontrar a aeronave da Argélia. Os destroços foram localizados (...) 50 km ao Norte da fronteira com o Burkina Faso", afirmou, citado pela AFP. “Por enquanto não temos informações sobre o destino dos passageiros.”

Também o Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, anunciou que tinham sido encontrados vestígios do avião. “Acabei de ser informado de que os destroços foram encontrados”, disse, segundo a Reuters, em Bamako, sem adiantar detalhes.

Ainda que as informações de ambos indique que os destroços foram encontradas, as localizações que referem divergem: Boubacar Keita disse que foi entre as cidades de Aguelhoc e Kidal, no Norte, já perto da fronteira com a Argélia; Gilbert Diendiéré afirmou que o desastre ocorreu mais a Sul, na zona de Gossi, a 50 Km da fronteira com o Burkina Faso.

Ainda antes de "oficializar" a queda Diendiéré tinha anunciado que uma testemunha afirmara ter visto o avião “cair” na zona de Gossi . “Estamos em contacto com esse informador e contamos ir ao local” para verificar essas informações – acrescentou nessa primeira declaração. O militar, que coordena a “célula de crise” criada em Ouagadougou, considerou logo então a a informação credível.

A declaração de Gilbert Diendiéré reforçou afirmações anteriores. “Confirmo que caiu”, dissera, ao início da tarde, fonte oficial argelina às agências noticiosas internacionais. “O avião provavelmente caiu”, informara também Laurent Fabius, ministro francês dos Negócios Estrangeiros.

A garantia de que o avião estava em boas condições foi dada pelo director-geral da aviação civil francesa, Patrick Gandil, citado pela AFP. “Esteve em França, em Marselha, há dois ou três dias. Examinámo-lo e não encontrámos quase nada, estava em muito boas condições. O aparelho, um McDonnell 83 (MD83), de fabrico norte-americano, tem 18 anos de serviço.

O voo AH 5017 fazia a ligação entre Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, e Argel, a capital argelina. Um comunicado da transportadora informou que “os serviços de navegação aérea perderam o contacto [com o avião] aos 50 minutos de voo”, à 1h55 TMG (2h55 em Portugal Continental). 

A empresa privada de aviação espanhola Swiftair confirmou que se tratava de um dos seus aviões, fretado pela Air Algérie, e que os dois pilotos e os quatro tripulantes de cabine são espanhóis. 

Um balanço da Air Argélie feito a meio da tarde indicava que no aparelho seguiam 50 franceses – Fabius mencionou 51 – , 24 cidadãos do Burkina Faso, oito libaneses, seis argelinos, seis espanhóis, cinco canadianos, quatro alemães, dois luxemburgueses. Mas no Líbano as autoridades avançaram que estavam vinte libaneses no AH 5017. Sem discriminar ainda todas as nacionalistas a lista oficial inclui também um belga, um suíço, um camaronês, um ucraniano, um romeno, um egípcio, um maliano e um nigeriano.

Um representante da companhia aérea disse que muitos dos passageiros se dirigiam a Argel para apanharem em seguida outros aviões que os levariam à Europa, ao Médio Oriente e ao Canadá. A Direcção-Geral da Aviação Civil francesa informou que parte dos passageiros deveriam seguir para Paris ou Marselha.

O aparelho partiu à 1h17 (02h17 em Portugal continental) e não chegou a Argel à hora prevista, 5h10 (6h10 da manhã). Uma fonte da transportadora argelina explicou à AFP, sob anonimato, que o avião se aproximava já de território da Argélia quando, devido à fraca visibilidade, a torre de controlo pediu ao comandante para fazer um desvio de rota de modo a evitar riscos de colisão com outro avião. “O avião não estava longe da fronteira argelina quando foi pedido à tripulação que se desviasse devido à má visibilidade e para evitar o risco de colisão com outro avião que fazia a ligação Argel-Bamako”, disse. “O sinal perdeu-se na mudança de rota”.

O aparelho sobrevoava a região de Gao, a 500 quilómetros da fronteira argelina, quando desapareceu. As autoridades da aviação do Burkina Faso explicaram que já tinham passado o acompanhamento do voo à torre de controlo de Niamey, no Níger. Uma fonte diplomática em Bamako, a capital do Mali, disse à Reuters que o Norte do país esteve, nas horas em que o avião sobrevoou a zona, debaixo de uma "poderosa" tempestade de areia.

Sucessão de tragédias
O derrube de avião de passageiros da Malaysia Airlines, há uma semana, deu origem a especulações sobre a eventualidade de algo de semelhante poder ter acontecido com o MD83. Mas é “pouco provável” que os grupos jihadistas que actuam na região onde o aparelho desapareceu tenham equipamento capaz de atingir aeronaves de passageiros a grandes altitudes, disse um responsável francês ouvido pela agência Associated Press.

Em Ouagadougou foi criada uma unidade de crise, para prestar informações e apoio aos familiares dos passageiros. Em França, foram também montadas duas “células de crise” – na Direcção-Geral de Aviação Civil e no Ministério dos Negócios Estrangeiros - e instaladas equipas de acompanhamento da situação nos aeroportos de Roissy-Charles-de-Gaulle, em Paris, e no de Marselha. O facto de a bordo do avião seguirem cidadãos franceses levou o Ministério Público de Paris a abrir um inquérito preliminar por “homicídio involuntário”.

Issa Saly Maiga, que chefia a aviação civil do Mali, disse que estão em curso acções de busca ao avião. Nesses esforços estão envolvidas equipas do Mali, do Níger, da Argélia e da França – informou  a Agência para a Segurança da Navegação Aérea em África e Madagáscar (Asecna).

Ao início da tarde de quinta-feira, a França anunciou que dois caças Mirage 2000 que integram o contingente que tem na África Ocidental iriam sobrevoar a zona onde o aparelho perdeu o contacto com a torre, de forma a perceber onde teria caído. Mas os primeiros esforços foram infrutíferos. “Apesar das buscas intensivas, à hora a que falo não foi encontrado qualquer vestígio do aparelho”, disse, a meio da tarde, o ministro francês Laurent Fabius. Mais tarde, o Presidente, François Hollande, disse que todos “os meios militares [franceses] no Mali” tinham sido mobilizados para as buscas.

A queda do aparelho ocorre numa semana que já era trágica para a aviação civil, após o presumível derrube de um Boeing 777 malaio no Leste da Ucrânia, causando a morte das 298 pessoas que seguiam a bordo, e da queda, na quarta-feira, de um avião da TransAsia Airways em Taiwan, matando 48. 

No caso da Air Algérie, o ano também tem sido negro: em Fevereiro, um Hercules C-130 caiu pouco antes da aterragem em Constantine, 450 quilómetros a Leste de Argel, causando a morte de 76 pessoas. O maior acidente da companhia ocorreu em 2003, quando um avião caiu pouco depois da descolagem, matando 102 pessoas.

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