Hamas não aceita cessar-fogo se Israel não levantar bloqueio a Gaza

ONU diz que há falta de comida e que a água começa também a ser um problema no enclave palestiniano.

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Um bairro no Norte da faixa bombardeado pelas forças israelitas Suhaib Salem/Reuters

O líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, disse que não pode haver cessar-fogo na Faixa de Gaza antes de Israel pôr fim ao bloqueio económico a este enclave palestiniano, que já dura há oito anos.

Numa conferência de imprensa na quarta-feira no Qatar, onde vive, Meshaal defendeu que há uma série de condições que devem ser negociadas antes de se poder falar em cessar-fogo. Entre elas estão o fim do bloqueio económico de oito anos à Faixa de Gaza, a reabertura da fronteira de Rafah (com o Egipto) e a libertação de prisioneiros palestinianos.

“Não aceitaremos qualquer iniciativa que não leve ao fim do bloqueio e que não respeite os nossos sacrifícios”, disse Meshaal. Acrescentou que não fecha a porta a uma trégua humanitária. "Precisamos de calma durante algumas horas para retirar os feridos e [fazer] entrar ajuda”, disse, apelando à comunidade internacional para que faça chegar aos palestinianos de Gaza medidamentos, combustível e alimentos.

"É terrível, é simplesmente terrível", disse sobre a situação da população civil a responsável pela ONU na Faixa de Gaza, Valerie Amos. “Temos mais de 119 mil pessoas refugiadas em escolas da ONU. As pessoas estão a ficar sem o que comer e a água é também um sério problema”. 

Israel impôs restrições à Faixa de Gaza em 2006 após o rapto de um soldado israelita. A medida foi apertada (tornando-se um bloqueio económico) em 2007 por Israel e pelo Egipto, na sequência da vitória do Hamas nas eleições de Gaza (em 2006), o que levou ao afastamento da Fatah (a facção que governa a Cisjordânia). Israel, os Estados Unidos e a União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista. O Hamas e a Fatah reconciliaram-se em Abril e anunciaram a formação de um governo de unidade, mas esta aproximação condenada por Israel, EUA e UE  não chegou a ser concretizada, uma vez que o rapto e assassínio de três adolescentes israelitas e, depois, de um palestiniano, fizeram eclodir o actual conflito.

Em declarações ao site Walla, o ministro israelita da Ciência, Yaakov Peri, também disse que um cessar-fogo não está no horizonte de Israel, pelo menos para já. "Não vejo que isso possa acontecer nos próximos dias. Posso afirmar com toda a segurança que dois ou três dias não são suficientes para dar por terminada a operação nos túneis". Oficialmente, a intervenção de Israel na Faixa de Gaza, que entrou já no 17.º dia, destina-se a destruir os túneis construídos pelo Hamas e que servem para realizar operações em território controlado por Israel e para fazer entrar bens essenciais no território.

Mas, na prática, as forças de defesa estão a atacar alvos em todo o encalve, tendo sido acusadas pela Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, de crimes contra a humanidade por estarem a bombardear civis – foi criada uma comissão para averiguar se estão de facto a ocorrer esses crimes. Segundo as fontes palestinianas, os combates voltaram a intensificar-se e as tropas terrestres israelitas iniciaram, na noite de quarta-feira, uma incursão em Khuzaa, a sul, de onde fugiram cinco mil palestinianos. 

Em 16 dias de guerra, morreram 710 palestinianos (74% deles civis, segundo a ONU) e 37 israelitas (três civis). Um palestiniano foi morto junto à Cisjordânia, durante distúrbios que eclodiram na quarta-feira à noite.

Entretanto, a agência federal americana, que proibira as companhias americanas de voarem para o aeroporto Ben Gurion de Telavive – em cujas proximidades caiu um rocket disparado pelo Hamas – levantou a interdição, mas advertiu que a situação se mantém “muito instável”. Várias companhias europeias preparavam-se também para retomar os voos para Israel.

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