A hora do ditador e os avisos de Portugal

A Guiné Equatorial tornou-se membro da CPLP, mas Portugal deixou no ar avisos relevantes.

Era tal a ânsia de que Teodoro Obiang entrasse mesmo na CPLP que a foto de família (com ele, claro) foi tirada, extraordinariamente, antes de consumada a admissão. Isto diz muito de tão infame episódio.

Mas é também revelador, dos malabarismos políticos que o rodearam, o facto de Dilma Rousseff e José Eduardo dos Santos (apoiantes da entrada da Guiné Equatorial) se terem esquivado à fotografia (e à cimeira) enquanto Cavaco Silva, antigo opositor da adesão, ter ficado para a história na mesma imagem do ditador recém-admitido ao clube. Ditador que, trazido de início pela mão de Xanana (ironias da história), foi “aceite” sem qualquer votação à custa de um pontapé no protocolo.

Talvez para “vingar” semelhantes humilhações, Portugal fez incluir na declaração final uma referência explícita à pena de morte na Guiné Equatorial, referência que foi aprovada, embora com estranheza, e decerto com enfado, pelos restantes delegados. Mais: foi Portugal que impediu, e bem, que Obiang estivesse presente na reunião plenária que iria decidir a admissão do seu país à CPLP. Mais um “deslize” do protocolo, corrigido a tempo.

E Cavaco Silva, a juntar a isto, insistiu ainda em sinalizar o futuro da organização, reafirmando em discurso os seus princípios: “O potencial de atracção da nossa comunidade e o reconhecimento internacional da CPLP assenta no conjunto de valores identitários que partilhamos, como são a língua portuguesa, os princípios fundadores da defesa da paz, do Estado de direito democrático, dos direitos humanos e do desenvolvimento económico-social”, disse.

E disse mais: “É por isso fundamental que continuemos a deixar claro, no presente e no futuro, que são esses valores que determinarão as nossas decisões e as nossas iniciativas.” Se as palavras têm cada vez menos valor nestas coisas, ficou pelo menos o aviso. Condenado à fotografia, Portugal não pode ficar condenado a tudo o resto. Assim haja coragem.

 

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