PT e Vodafone vão partilhar fibra e Anacom vê acordo com bons olhos

Empresas querem chegar a mais casas com menores custos e apostar em novas zonas geográficas. Acordo abrange 900 mil lares.

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Rede de fibra óptica da Vodafone Portugal já chega a um milhão de casas pedro maia

Convergência tecnológica e convergência de interesses. A PT e a Vodafone puseram-se de acordo e vão partilhar as suas redes de fibra óptica, conseguindo chegar a um maior número de potenciais clientes dos chamados serviços convergentes (televisão, Internet e telefone), com menores investimentos. A ideia é que cada uma das operadoras tenha acesso a 450 mil casas em zonas geográficas nas quais a sua rival já investiu ou vai investir (no caso da Vodafone, a empresa irá investir em zonas onde a PT não está e, em troca, recebe acesso a zonas em que a PT já está), podendo, a partir dessa infra-estrutura disputar a angariação de novos clientes.

Quais serão as zonas? Nenhuma das empresas o revela, nem quantifica o potencial de poupança que a medida permitirá. O acordo foi anunciado nesta segunda-feira, dia em que a Vodafone Portugal anunciou já ter um milhão de casas cobertas com fibra óptica e 240 mil clientes de banda larga fixa, dos quais 190 mil com televisão. O presidente executivo da operadora, Mário Vaz, explicou ao PÚBLICO que o acordo em nada afecta o plano de investimento da empresa em Portugal (500 milhões de euros em dois anos, maioritariamente na rede de fibra), mas permite “acelerar o plano de expansão”, fazendo com que a empresa chegue a dois milhões de casas no próximo ano, ao invés das 1,5 milhões previstas.

Já para a PT, que tem vindo a reduzir investimento em Portugal, o entendimento com a Vodafone permitirá chegar aos 2,1 milhões de casas. Ainda assim, ambas ficam longe do número de casas abrangidas pela rede híbrida (cabo coaxial mais fibra) da NOS (antiga Zon Optimus), que era de 3,225 milhões no final do primeiro trimestre.

Anacom vê com bons olhos
Trata-se de um acordo que a Anacom diz que "pode ser muito interessante porque é susceptível de melhorar as condições de investimento e de concorrência em várias zonas do país”, disse ao PÚBLICO fonte oficial do regulador. O acordo permitirá às empresas repartirem os custos de levar fibra a zonas menos atractivas (menos povoadas) e aumentará a concorrência naquelas “onde só há um operador de cabo”. “Por outro lado, em zonas onde só está o cabo e a PT, passará a haver mais um operador de fibra, a Vodafone, o que irá certamente manter uma pressão concorrencial sobre os preços e a qualidade de serviço em benefício dos consumidores”, sustentou. A mesma fonte reconheceu que, do ponto de vista regulatório, a Anacom terá que “analisar o impacto que este acordo terá no mercado, já que se irão alterar as condições concorrenciaisque existem em várias zonas do país”.

Fontes do mercado notaram que o acordo agora alcançado poderá ser uma espécie de movimento de antecipação da PT face a futuras obrigações regulatórias no mercado de banda larga, estabelecendo à priori um modelo que lhe é favorável no que toca à abertura das suas infra-estruturas.

Para trás ficam os anos de recusa sistemática da PT em abrir a rede de fibra à concorrência, com o argumento de que não deixaria ninguém “surfar” numa rede em que só ela investia. E também os tempos em que a Vodafone se recusava a investir em fibra, acusando a “irracionalidade” de duplicar o investimento e exigindo a abertura da rede da PT à concorrência. Ainda assim, apesar de a Vodafone ter enveredado pela construção de uma rede própria para conseguir sobreviver às ofertas convergentes do MEO e da NOS,  Mário Vaz sublinha que o acordo com a PT permite “racionalizar em sã concorrência investimentos e meios infra-estruturais, como há muito” é defendido pela empresa.

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