7 Dias em Havana

É mais uma reunião da “internacional do cinema de autor” à volta desse abstracto sempre arriscado que é o “filme em episódios”. É verdade que aqui parece haver uma conceptualização mais trabalhada do que em projectos como Paris I Love You: os sete episódios, entregues a seis cineastas estrangeiros e um local, articulam-se de acordo com os dias da semana, mostrando diferentes facetas do quotidiano da cidade. Mas, no “caderno de encargos” a meio entre a expressão de uma visão de autor e o olhar realista sobre Havana, é preciso esperar que passe (a pior) metade do filme para vermos os dois únicos episódios com marcas suficientemente pessoais para se inscreverem sem problemas na obra dos autores e mostrarem olhares genuinamente diferentes sobre a cidade: Elia Suleiman, com a sua observação trágico-burlesca dos tempos mortos enquanto espera uma entrevista que talvez nunca aconteça, e um Gaspar Noé peculiarmente apaziguado que acompanha um ritual tradicional com o qual um casal pretende exorcizar o lesbianismo da filha. O cubano Juan Carlos Tabío e o francês Laurent Cantet assinam os dois filmes onde mais se sente a humanidade do quotidiano de Havana, mas sem que neles se sinta um qualquer sinal particular que se destaque. Sobram os desastrosos filmes de Benicio del Toro, Pablo Trapero e Julio Medem, que se atolam sem apelo nem agravo algures entre o postal turístico, o lugar-comum preguiçoso e a anedota inconsequente. O que daqui fica é um objecto profundamente desequilibrado, ao qual o mecenato mal disfarçado de uma marca de rum e da sua agência de publicidade emprestam um travo desagradável e amargo de publicidade encapotada à Havana turística. Teria sido bom que o filme afastasse esse travo; infelizmente não consegue.

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