As Flores da Guerra

A ironia é inescapável: o mais recente filme de um dos nomes-chave da “quinta geração” do cinema chinês, entretanto “acomodado” ao seu papel de cineasta oficial, é um melodrama de guerra à moda americana antiga, coisa literalmente fora de moda como já nem Hollywood faz há décadas. Ficção ambientada no massacre de Nanquim em 1937, As Flores da Guerra segue de forma maniqueísta o percurso previsível de um emigrante americano (Christian Bale) apanhado no meio das hostilidades entre os chineses e os japoneses e atirado para o papel de salvador improvável de um grupo de alunas de um colégio católico e de uma dúzia de prostitutas procurando fugir aos combates. Tecnicamente, não há absolutamente nada a apontar a As Flores da Guerra - a não ser o seu extremo calculismo, anónimo e competente, oscilando entre a contenção e a opulência, entre a sobriedade e a decoração, onde se sentem a espaços os rasgos visuais de um cineasta que já provou ser capaz de melhor. Vê-se sem enfado, é certo, mas não é fita que fique na memória.

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