O Cavalo de Turim

Na entrevista a este suplemento, na semana passada, Béla Tarr falava da sensação de ter tudo dito - “a minha obra está feita, embalada” -, dizia que se O Cavalo de Turim não for o seu último filme, como diz que é, começará a repetir-se, a plagiar-se. Na verdade, havia já a sensação de um limite atingido em O Homem de Londres (2007): uma espécie de filme-fantasma a estrebuchar, sem capacidade de revolta, parecia “ocupado”, como se o mecanismo tivesse tomado conta de tudo. Uma experiência lúgubre - e, como se costuma dizer, “interessante” por isso. Volta a ser “uma experiência” O Cavalo de Turim: num filme sobre o desaparecimento da energia, os autoritários travellings e a tonitruante máquina de vento de Tarr - sobre a figura humana, até sobre a batata... - participam de um processo de opressão e desvitalização. Euforias à parte pela estreia comercial de um filme do húngaro nas salas portuguesas, O Cavalo de Turin vê-se em perda. Pela dificuldade, no ecrã revelada, de ser quebrada a claustrofobia de um edifício e de se conseguir tocar matéria humana... Há algo de vampírico neste aparato desumano, nesta máquina admiravelmente, como disse Tarr?, “embalada” que tem ganho vida própria.

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