Caos Calmo

Já foi dito quase tudo sobre a pertinência de "Caos Calmo" enquanto legítima adenda à obra de Nanni Moretti, mau grado o filme não ter sido realizado por ele. Fora, eventualmente, a questão sexual explícita, a personagem interpretada por Moretti é composta por "bits & pieces" trazidos de muitas outras personagens morettianas, e é, por assim dizer, mais uma modulação da sua "persona": do puritanismo exasperado que o faz projectar nos outros as imperfeições e os defeitos que teme encontrar em si próprio até à questão política, subjacente a toda a história do que se vai passando na empresa onde a personagem trabalha. Não obstante, é na sua encenação de um processo de luto que "Caos Calmo" nos convence. O luto como obsessão e fixidez, um pouco como se fosse aquele momento de "O Quarto do Filho" em que Moretti ouvia repetidamente, para a frente e para trás, o mesmo trecho musical, ampliado para a dimensão de um filme inteiro. O luto como circunstância "redimensionadora": não é isso que "Caos Calmo" faz, naquela praça romana, frente à escola da filha, que passa a ser "todo o mundo"?

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