Caos Calmo

Uma variação sobre o sublime "O Quarto do Filho"

Não é exactamente um filme de Nanni Moretti, apesar da sua presença no papel principal e da sua co-autoria no argumento, mas podia ser, porque é impossível não ver nele o Moretti que nos habituámos a ver em filmes anteriores. Porque, enfim, "Caos Calmo" é uma variação sobre o sublime "O Quarto do Filho" que se podia chamar "O Banco do Pai": aqui, é não o filho mas a esposa que morre repentinamente enquanto Pietro está na praia com o irmão a salvar uma senhora de morrer afogada. A única maneira que ele encontra de lidar com a questão é eleger o jardinzinho em frente à escola primária da filha como o novo centro do mundo, lambendo as suas feridas com placidez, concentrandose no que é realmente importante - a filha que não quer mais largar dos olhos.

O que se segue é um melodrama elegante em tom levemente efabulatório, mais à vontade no tratamento emocional do drama do viúvo que procura recomeçar a vida do que na trama paralela dos jogos de escritório que rodeiam a fusão da estação onde Pietro trabalha, transportado pela interpretação soberba de um Moretti que revela ser actor de muitos mais recursos do que os seus próprios filmes muitas vezes lhe pedem.

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