Quebra de Confiança

Billy Ray gosta de mentirosos. "Shattered Glass", o filme com que em Portugal o descobrimos, era sobre o caso verídico dum jornalista que inventava reportagens para a "New Republic". E este, "Quebra de Confiança", é sobre o caso verídico dum "super-espião" americano que durante anos vendeu informação aos soviéticos e (depois) aos russos.

Sem tanto espectáculo como "Shattered Glass" - a mitomania espalhafatosa dá lugar à traiçãosilenciosa - é outra vez um óptimo filme. Ray constrói-o como um finíssimo estudo de carácter,escorado em dois actores magníficos (Chris Cooper, no traidor, e Ryan Philippe, o jovem agente do FBIencarregue se colar a ele como uma lapa). Evacuando o"suspense" e a incerteza (o filme começa pelo fim dahistória), "Quebra de Confiança" até pode funcionar à revelia dos contornos histórico-políticos danarrativa, e ser a crónica de um "male bonding" marcado pela falsidade, menos a história de umhomem que trai o país do que a de outro que trai um amigo.

E sobretudo, a ideia de que um ser humano é sempre um abismo. Cooper, genialmente abissal, pedeapenas a Philippe, no último plano, que "reze por ele". A seguir, fundido a negro, fim.

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