Repita-se, a propósito de "A Cativa", porque não são assim tantas as vezes que se pode fazê-lo: belíssimo, belíssimo, belíssimo. Proust resiste assim tanto a transposições cinematográficas? Não parece: em entrevistas, Chantal Akerman explica que ao reler excertos de "A Prisioneira" (de "Em Busca do Tempo Perdido") sentia uma tal intimidade que o tratava por "meu pequeno Marcel". A ele foi buscar o essencial, a marca distintiva - a languidão, o desejo, a ambivalência, os fantasmas, um certo decadentismo "fin de siècle" - para os reproduzir, recriar numa actualidade que só se pressente em pano de fundo. Já tínhamos esquecido que há quem filme assim, jogando com as ressonâncias do tempo (falamos da intemporalidade do filme, bem como da lembrança do cinema clássico nas sequências admiráveis da perseguição de Simon (mais do que excelente Stanislas Merhar) a Ariane (excelente Sylvie Testud) - "Vertigo", de Hitchcock é o cânone - e do passeio das sombras do par pelo parque (Visconti). Seguramente, um dos melhores filmes do ano.
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