Moradores de uma favela invadem Copacabana em protesto contra a violência policial

Um homem morreu, baleado na cabeça. "As favelas devem unir-se e descer à rua para dizerem que não querem polícia assassina".

Os confrontos forma motivadospela moete suspeita de um dançarino
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Os confrontos forma motivados pela morte suspeita de um dançarino Lucas Landau/Reuters
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Dez mil pesosas vivem no conjunto Pavão-Pavãozinho/Cantagalo CHRISTOPHE SIMON/AFP
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O centro de Copacabana esteve encerrado cinco horas Lucas Landau/Reuters
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O centro de Copacabana esteve encerrado cinco horas Lucas Landau/Reuters
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A segurança foi reforçada devido ao Mundial CHRISTOPHE SIMON/AFP

A morte de um homem numa favela do Rio de Janeiro provocou um violento protesto dos moradores na terça-feira à tarde. A principal avenida do bairro de Copacabana foi barricada e esteve fechada cinco horas. Nos confrontos com a polícia, uma pessoa foi morta com um tiro na cabeça.

“Tudo começou às 17h30 [hora local]. Havia fumo por todo o lado, havia tiros por todo o lado e as pessoas corriam em todas as direcções tentando chegar a casa. Muitos camiões do Bope [a polícia de elite] desceram da favela e ficámos bloqueados”, contou à AFP um estudante francês que vive na Pavão-Pavãozinho, a favela pacificada — aquelas onde foram criadas esquadras de polícia com o objectivo de desactivar os grupos de traficantes — onde na segunda-feira foi encontrado morto um dançarino de 27 anos.

Douglas Rafael Pereira, dançarino num programa da TV Globo e condutor de mototaxis na Pavão-Pavãozinho, foi encontrado morto dentro de uma creche da favela. Os moradores acusaram os polícias da UPP (unidades de polícia pacificadora) de o terem espancado até à morte, o que foi negado. 

De acordo com o jornal O Globo, citando moradores, Douglas Pereira teria pedido explicações à polícia sobre o desaparecimento de uma moto e terá sido levado para um local desconhecido. Outra versão diz que o dançarino terá sido visto a pular muros na sequência de um confronto entre polícias e traficantes, tendo sido confundido com um destes, levado para a creche e espancado. 

Segundo a polícia, não havia marcas de tiros no corpo do dançarino. Os dados preliminares da autópsia mencionam costelas partidas e escoriações. O relatório da UPP conclui que morreu devido a “uma queda”. Mas a mãe de Douglas Pereira, Fátima Silva — que contou que o filho tinha ido à Pavão-Pavãozinho ensaiar uma coreografia —, disse que o corpo do filho estava cheio de marcas de botas. “Só 12 horas depois [de o corpo ter sido encontrado] nos deixaram vê-lo e ele estava em posição defensiva e com marcas em todo o corpo”, disse Fátima Silva, que é enfermeira.

 A suspeita revoltou os moradores da favela — onde a UPP chegou em 2009 mas de onde o tráfico nunca desapareceu — que desceram do morro em direcção a Copacabana. 

Os comerciantes fecharam as portas e quem estava na rua abrigou-se onde pôde. Um morador de Copacabana, Thiago Verly, disse ao jornal O Globo que a situação foi de desespero. “Vi muita gente ateando fogo. A confusão foi generalizada. Um grupo quebrava carros e muita gente desceu o morro com pedras nas mãos. Na hora, pensei que fosse um ataque contra todo mundo que estava na rua, tipo um arrastão, e saí correndo até um hostel.”

A chegada do Bope e de outras unidades policiais intensificou o protesto e houve tiroteio — um dos manifestantes um homem que a AFP identifica como Mateus, de 26 anos e deficiente mental, foi morto. 

“A minha grande revolta é que eu ouvi um polícia dizer que ia matar um para dar o exemplo. E matou”, testemunhou Daisy Carvalho. “Um deles chamou-me puta suja e disse que os que defendem os direitos humanos defendem os bandidos. As favelas devem unir-se e descer à rua para dizerem que querem a paz mas não querem polícia assassina”, disse.

Daisy Carvalho deixou um recado aos turistas: “Não venham à Copa”. “Que Copa é esta, que Jogos Olímpicos [no Brasil, em 2016] são estes, banhados do sangue de jovens inocentes?”, questionou.

Apesar do aparato policial nas favelas — onde as UPP foram reforçadas — e em toda a cidade devido à proximidade do Mundial de futebol, que começa a 12 de Junho, os confrontos não cessam nesta cidade do Brasil.

No dia 2 de Abril, moradores de outra favela, a Cantagalo, manifestaram-se em protesto pela morte de dois homens, que terão sido baleados pela polícia. No dia 5, a polícia e membros da UPP da Pavão-Pavãozinho envolveram-se num tiroteio com traficantes de droga e no dia 18 parte do comércio de Ipanema foi obrigado a fechar por ordem dos traficantes que impuseram um dia de luto pela morte de um dos seus chefes, Patrick Costa dos Santos, também morto pela polícia.

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