Mergulhadores recuperam corpos de ferry naufragado na Coreia do Sul

Número de mortos sobe para 58 mas ainda há 244 desaparecidos. Familiares das vítimas protestam contra morosidade nas operações.

Fotogaleria
Familiares em protesto junto ao local das buscas, revoltados com a demora nas operações de resgate REUTERS/Kim Kyung-Hoon
Fotogaleria
Mais corpos foram resgatados este domingo ED JONES/AFP
Fotogaleria
Familiares exigem que os corpos sejam resgatados o mais rapidamente possível REUTERS/Kim Kyung-Hoon
Fotogaleria
Recolha de ADN junto dos familiares para ajudar na identificação dos corpos REUTERS/Kim Hong-Ji
Fotogaleria
Esperança de encontrar sobreviventes é praticamente nula, dizem autoridades REUTERS/Kim Kyung-Hoon
Fotogaleria
REUTERS/Issei Kato
Fotogaleria
REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Após três dias de frustração e tentativas falhadas de aceder ao interior do ferry naufragado na Coreia do Sul, os mergulhadores conseguiram finalmente entrar, descobrindo mais de uma dúzia de corpos dentro do barco.

"Às 23h48 (15h48 em Lisboa), a equipa de resgate partiu uma janela de vidro e conseguiu entrar dentro do navio", revelou fonte governamental. Os corpos foram recuperados nas horas seguintes. Os três primeiros a serem resgatados tinham vestidos coletes salva-vidas e dois deles eram do sexo masculino.

Ao longo da manhã deste domingo têm sido recolhidos corpos. Alguns estavam dentro do navio, outros flutuavam fora da embarcação. O número de vítimas mortais confirmadas é agora de 58, segundo a Guarda Costeira. 244 pessoas são ainda dadas como desaparecidas, a maioria estudantes de um liceu dos subúrbios de Seul, todos adolescentes de 16 e 17 anos. 

Familiares indignados
Cerca de 100 pessoas, familiares das vítimas desaparecidas, tentaram iniciar este domingo uma marcha de protesto desde Jindo – o ponto de partida da viagem e ground zero das operações que envolvem 176 embarcações e 28 aeronaves – até à residência do presidente da Coreia do Sul em Seul, a 420 quilómetros de distância.

"O Governo é um assassino", gritou um dos familiares, numa altura em que uma barreira policial impedia o avanço do protesto. "Queremos uma resposta da pessoa responsável, porque é que nada está a ser feito?", perguntou Lee Woon-geun, pai de um jovem de 17 anos que permanece desaparecido. "Estão claramente a mentir-nos e a passar a responsabilidade uns para os outros", concluiu. O ministro do Mar e das Pescas sul-coreano, Lee Ju-young, esteve este domingo no local e foi cercado por familiares que o agarraram exigindo maior eficácia nas operações de resgate. 

Cerca de 500 familiares dos desaparecidos estão há quatro dias num ginásio na cidade portuária de Jindo à espera de respostas. Duas telas gigantes foram instaladas no interior de ginásio, onde têm sido mostradas nos últimos dias imagens em vídeo recolhidas durante as buscas. Mas a demora nas operações aumenta a revolta dos familiares: na tarde de sábado, um homem tentou estrangular um oficial da Guarda Costeira e agredir um agente da Polícia Marítima. 

"O Governo devia apressar-se e fazer alguma coisa, mas desperdiçaram quatro dias e agora estamos neste ponto. É um desastre com mão humana", disse Lee Jong-eui, tio de um dos jovens desaparecidos. 

As operações de resgate do ferry sul-coreano Sewol, que naufragou quarta-feira nas águas do mar Amarelo com 475 pessoas a bordo, poderão prolongar-se pelos próximos dois meses, numa altura em que as autoridades consideraram praticamente nulas as hipóteses de ainda encontrar sobreviventes.  Três embarcações com gruas estão há dois dias a postos para levantar o navio mas isso só acontecerá, segundo a Guarda Costeira, com a aprovação das famílias, uma vez que a operação pode colocar em perigo possíveis sobreviventes.

Capitão e tripulantes detidos
Os procuradores da investigação do naufrágio avançaram este domingo que o prazo de detenção do capitão e dois outros membros da tripulação pode aumentar de dez para trinta dias.  "Estamos a tentar perceber se houve negligência adicional", explicou o procurador Yang Joong-jin numa conferência de imprensa em Mokpo, um dos centros da investigação.

O procurador disse ainda que outras dez pessoas foram chamadas a testemunhar, incluindo outros membros da tripulação do Sweol e oficiais da emprensa detentora do ferry, a Chonghaejin Marine Co Ltd.

Um dos procuradores envolvidos na investigação ao caso, Yang Joong-jin, confirmou ontem que quem seguia ao leme no momento do naufrágio era a terceira oficial Park Han-gyeol. “Não há nada de ilegal nisso”, sublinhou, embora tenha notado que se tratava da primeira vez que a marinheira de 26 anos manobrava o navio de 6,8 toneladas pelo canal de Maenggol, uma via marítima “traiçoeira” e de correntes imprevisíveis na ponta Sul da península coreana.

O ferry Sewol, uma embarcação com 20 anos, demorou duas horas a afundar-se, mas os passageiros receberam ordens para ficar nas cabines. Até agora, há apenas 174 sobreviventes. O capitão, Lee Joon-seok, defendeu sábado a sua decisão de "atrasar" a evacuação do navio com a força da corrente, a baixa temperatura das águas e o facto de ainda não terem chegado barcos de salvamento. E voltou a pedir desculpas às famílias: “Peço desculpas ao povo da Coreia do Sul por ter causado este distúrbio. Curvo a cabeça e peço perdão às famílias das vítimas”, declarou.

Sugerir correcção
Comentar