Aposta da CP em comboios charter rendeu quase 53 mil passageiros em 2013

Há cada vez mais empresas, escolas e municípios a alugar comboios especiais.

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Só no primeiro trimestre deste ano já foram alugados 29 comboios especiais José Fernandes

Os ferroviários chamam-lhes “comboios especiais”, apesar de na aparência serem iguais aos outros. A diferença é que não circulam nos horários regulares porque são composições alugadas por entidades para transportar grupos organizados e fazem por vezes percursos entre estações de origem e de destino que não são habituais.

Em 2013, a CP transportou neste segmento de mercado 52.755 passageiros em 113 comboios fretados. No primeiro trimestre deste ano – em plena época baixa - já se realizaram 29 serviços deste tipo que transportaram 18.000 passageiros, havendo a expectativa de um grande crescimento, dado que a procura por este segmento é maior no Verão e no Natal. As escolas são, em passageiros transportados, os principais clientes da CP (23% em 2013), seguidos das empresas (13%) e dos municípios (12%).

Um dado curioso: os comboios especiais da Senhora da Agonia, que se realizam entre Nine e Viana do Castelo, representam 15% dos passageiros transportados no ano passado. Mas mais do que um negócio para a CP, estas circulações são em certos dias a única forma de aceder à cidade durante a enchente das festas.

Já o segmento das empresas, embora só represente 13% dos passageiros transportados, é mais lucrativo porque os percursos são maiores (quase todos entre Lisboa e Porto). A CP não divulga números, mas assume que os preços praticados para um comboio especial que transporta crianças ao Jardim Zoológico não é mesmo que uma composição para quadros de uma grande empresa ou instituição bancária. E que os preços também variam consoante os dias da semana e a época do ano.

Há empresas que alugam comboios para reuniões de quadros, festas de Natal ou eventos, sobretudo quando têm escritórios ou lojas espalhados por todo o país. Nestes casos, é frequente, por exemplo, um comboio sair de Braga e ir recolhendo os funcionários e familiares no Porto, Aveiro, Coimbra, Pombal e Santarém para uma reunião em Lisboa. Ou o contrário.

Do Avante ao Mega Pic-Nic
A PT é cliente da CP para estes serviços, bem como alguns dos maiores bancos portugueses. A Sonae (dona do PÚBLICO) resolveu transportar sobre carris os participantes para o Mega Pic-Nic Continente de 2013 com uma composição entre Braga e Santa Apolónia, na qual os passageiros pagavam só dez euros com direito a reverter esse valor no próprio cartão de fidelização.

E o que há de comum entre o PCP, os bancos e a Sonae? É que para a Festa do Avante aquele partido também fretou um comboio especial que saiu de Braga e veio directamente até Foros de Amora (estação mais próxima do local da festa). Neste caso, os bilhetes eram vendidos pela JCP, da mesma forma que o fez o Continente, e tal como tem acontecido com a Casa do Benfica, que vende aos adeptos os bilhetes para as viagens desde Braga até à estação mais próxima do estádio da Luz.

Esta estação é também próxima do Colégio Grão Vasco, cujo plano de actividades contempla todos os anos uma viagem de comboio. Em 2013, viajaram 300 crianças numa composição exclusiva entre Benfica e Tomar. Nos anos anteriores, os destinos foram Aveiro e Coimbra.

Mas o que mudou na CP para que uma empresa habitualmente tão majestática passasse de repente a ser tão flexível na área dos comboios especiais? Em primeiro lugar, a paz social. Parece que as greves se eclipsaram após meses sucessivos de conflito laboral. E, em segundo lugar, porque a empresa baixou os preços dos comboios charter o que teve efeitos imediatos no aumento da procura. Agora poderá ganhar menos por comboio, mas produz muitos mais comboios e – o que não é displicente – atrai mais pessoas às suas composições, criando o hábito de viajar sobre carris.

“Posicionámo-nos com preços que podem competir com a rodovia e provocam a transferência do autocarro para o comboio”, diz Ana Portela, do departamento de comunicação da CP. “Por outro lado, as empresas e entidades que nos contactam têm também em consideração que, quando se trata de viagens de grupos grandes que geram um clima festivo e de à vontade, o espaço do comboio é o mais adequado para viajar”, prossegue.

Oportunidades na música
A empresa chegou a possuir uma carruagem e uma automotora VIPs para este tipo de eventos. Mas desafectou-as do serviço. E possui ainda, em Contumil (Porto), um “comboio do vinho do Porto” com carruagens recuperadas, mas que não faz serviços, apesar de ter custado um milhão de euros.

Mesmo com a frota regular, a empresa tem conseguido responder às necessidades. Por exemplo, há duas semanas assegurou o transporte de 650 atletas, equipas técnicas e dirigentes num comboio da Federação Portuguesa de Basquetebol que se realizou entre Braga e Albufeira.

O desporto escolar é um segmento que tem vindo a crescer. A CP vai transportar em Maio dois mil jovens estudantes, parte dos quais virão também num comboio charter de Braga para o Oriente. Os atletas vindos das Beiras, do Alentejo e do Algarve virão também em comboio próprio, ou então na oferta regular da CP, reforçada com carruagens reservadas em exclusivo.

No âmbito das escolas, os municípios da Beira Alta têm-se destacado na organização de viagens a Lisboa, de que são exemplos Viseu, Mortágua, Penalva do Castelo, que até divulgaram essa iniciativa nos sites das câmaras.

Um mercado também em crescimento, mas neste caso organizado pela própria CP, é o dos concertos, beneficiando do facto de o pavilhão Atlântico (agora Arena Meo) estar situado ao lado da gare do Oriente. Os espectadores ficam gratos por poderem vir de Porto, Aveiro, Coimbra ou Entroncamento directamente para o concerto e, sobretudo, por não terem que conduzir, noite fora, no regresso.

Os próprios suburbanos de Lisboa organizaram circulações especiais para o festival Optimus Alive e reforçaram a oferta para a festa do caloiro, Festival Musa, Santos Populares e passagem de ano. Neste segmento o transporte de grupos duplicou nos últimos quatro anos.

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