Rússia reforça tropas na fronteira com a Ucrânia e NATO prepara manobras

Moscovo justifica medida como "precaução" por causa da instabilidade do país vizinho. NATO reage com reforço da presença nos países Bálticos.

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A NATO deve anunciar manobras com os países bálticos e a Polónia na semana que vem Francois Lenoir/REUTERS

O contingente militar russo destacado para a zona de fronteira com a Ucrânia acaba de ser reforçado com mais efectivos, numa manobra que o Kremlin justificou como uma “precaução” por causa da instabilidade do país vizinho.

Moscovo tinha até agora negado que o seu movimento de tropas para a fronteira tivesse qualquer relação com a situação no Leste da Ucrânia, onde grupos separatistas rebeldes continuam a ocupar edifícios governamentais, num braço-de-ferro com Kiev. Os activistas pró-russos não reconhecem a legitimidade do governo interino, e exigem a realização de um referendo de auto-determinação – à semelhança do que sucedeu na Crimeia, entretanto anexada pela Federação Russa.

Em declarações à estação de televisão Rússia 1, o porta-voz presidencial, Dmitri Peskov, admitiu pela primeira vez que os soldados russos não estão envolvidos em exercícios de treino, como até agora foi avançado, mas antes estacionados permanentemente. “As nossas forças na região da fronteira com a Ucrânia foram reforçadas tendo em conta o que está a acontecer no país. A Ucrânia acaba de passar por um golpe militar, e naturalmente estamos a tomar medidas de precaução para assegurar a nossa segurança”, referiu.

Peskov negou alegações – “completamente erradas” – de que a militarização da fronteira constitui uma interferência da Rússia nas questões internas da Ucrânia, e sublinhou que, como um Estado soberano, o seu país tem o direito de movimentar as suas tropas dentro do seu próprio território.

Os aliados ocidentais poderão responder na mesma moeda: segundo avança hoje o jornal norte-americano The Washington Post, a Nato planeia aumentar “substancialmente” a sua presença nos países do Báltico – “especialmente nas nações que fizeram parte do império soviético e agora temem ser as próximas na lista do Presidente Vladimir Putin”, diz o diário – e os Estados Unidos ponderam o envio de soldados para a Polónia.

Na semana que vem, devem começar manobras militares da NATO nos países bálicos e na Polónia, diz por sua vez o New York Times, que se devem prolongar durante duas semanas.

Na cidade de Donetsk, o centro da cintura industrial ucraniana, a sede do governo regional, tomada há duas semanas pelos separatistas pró-russos, continua nas mãos dos rebeldes que auto-proclamaram uma república popular. “Está tudo na mesma. Temos um padre ortodoxo cá dentro, e vamos celebrar a Páscoa”, informou à AFP um dos militantes.

O ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Andrei Deshchitsia, disse à BBC que Kiev decretou uma trégua na sua operação anti-terrorismo contra os militantes pró-russos, que tem como objectivo “proteger a população e regressar à normalidade”. “A operação foi suspensa para assinalar o feriado da Páscoa e a força não será usada”, garantiu.

Os separatistas rejeitaram um acordo para a solução pacífica da crise, firmado em Genebra pelos líderes interinos da Ucrânia e representantes da Rússia, Estados Unidos e União Europeia. O documento prevê o desarmamento das milícias pró-russas e a desocupação dos edifícios públicos, e promete uma amnistia de todos os crimes excepto homicídio e uma reforma constitucional para o reforço da autonomia das províncias.

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