"Pensei que se deixasse sair as pessoas do ferry iriam andar à deriva"

Lee Joon-seok, capitão do navio naufragado na Coreia do Sul, foi detido ontem e explicou porque demorou a dar a ordem de evacuação.

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Lee Joon-seok enfrenta acusações de negligência e violação da lei marítima REUTERS/Yonhap
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O capitão acompanhado da equipa de procuradores REUTERS/Yonhap
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No ginásio onde as famílias das vítimas estão reunidas, foram mostradas pela primeira vez imagens vídeo do interior do navio, recolhidas durante as buscas REUTERS/Kim Hong-Ji
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Mensagens de esperança deixadas no porto de Jindo, onde as famílias esperam por notícias REUTERS/Issei Kato
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Mais de 500 mergulhadores participam nas buscas, grande parte civis voluntários REUTERS/Issei Kato

O capitão do ferry que naufragou na quarta-feira com 475 pessoas a bordo pediu desculpas ao povo da Coreia do Sul. Famílias pedem que presidente sul-coreano regresse ao local e que o navio seja erguido para retirarem os corpos.

De cabeça baixa, sob um capuz de um impermeável preto e o peso de um país às costas. No momento da detenção, este sábado, o capitão do ferry Sewol voltou a pedir desculpas às vítimas e aos familiares. "Peço desculpas ao povo da Coreia do Sul por ter causado este distúrbio. Curvo a minha cabeça pedindo desculpas às famílias das vítimas", disse  Lee Joon-seok perante as câmaras de televisão, explicando a decisão de retardar a ordem de evacuação. 

"A corrente estava muito forte, a temperatura da água era muito fria, e pensei que se deixasse sair as pessoas do ferry sem uma avaliação correcta, sem coletes salva-vidas - ou mesmo se os tivessem - iriam andar à deriva e enfrentar muitas dificuldades", afirmou. Os barcos de resgate ainda não tinham chegado ao local, adiantou, o que influenciou a sua decisão.

Alguns sobreviventes dizem que nunca chegaram a ouvir a ordem para abandonar o barco. As autoridades concluíram que foi dada 30 minutos depois de o ferry se ter começado a virar, mas que nada foi dito sobre como é que os passageiros deviam sair. Oh Yong-seok, membro da tripulação ouvido pela Associated Press, admite que no meio do caos muitas pessoas podem não ter chegado a ouvir as ordens de evacuação.

Até agora só foram encontrados 32 corpos, mas ainda há 268 pessoas desaparecidas.

Quando o capitão chegou a terra, o ferry ainda não tinha acabado de se virar. Pouco depois, descreve o diário Chosun Ilbo na sua versão em inglês, o capitão estava no hospital a secar o dinheiro que levava consigo quando deixou a embarcação. Cinco minutos depois da chamada de emergência feita pela tripulação do Sewol, um navio dos serviços de tráfego marítimo aconselhava os tripulantes a começarem a preparar-se para a evacuação, escreve a AP, que leu a transcrição da conversa. 

Sabe-se agora que Lee Joon-seok não estava ao leme no momento do acidente – é habitual que não esteja durante todo o tempo nesta viagem de 13 horas. Mas o capitão nem sequer se encontrava na ponte e é obrigado a isso nesta zona em particular onde estava o navio, precisamente para ajudar os seus oficiais a fazerem uma curva.

Para além do capitão foram detidos mais dois membros da tripulação, acusados de não terem reduzido a velocidade numa zona com muitas ilhas próximas umas das outras e durante uma curva apertada, e por não terem posto em marcha as medidas necessárias para salvar vidas. Cho Joon-ki, que estava ao leme na altura, explicou que o barco reagiu de forma diferente do esperado: "Houve um erro da minha parte também mas o leme também virou mais do que era suposto", disse aos jornalistas. Os investigadores continuam a admitir vários cenários, mas dizem que o ferry virou bruscamente antes do acidente – pode ter sido a curva a provocar o desastre, levando a carga a mover-se, mas também é possível que esta tenha sido consequência de algo que acontecera antes. 

Três corpos avistados debaixo do navio
Os familiares dos desaparecidos, a maioria estudantes de um liceu dos subúrbios de Seul, todos adolescentes de 16 e 17 anos, exigem às autoridades que levantem rapidamente o barco para retirar os corpos. Este sábado, a Guarda Costeira sul-coreana revelou que mergulhadores civis avistaram três corpos a flutuar através da janela de uma cabine de passageiros mas não conseguiram retirá-los. Mais de 500 mergulhadores participam nas buscas, grande parte civis que se voluntariaram.

No ginásio onde as famílias das vítimas estão reunidas, no porto de Jindo, palco das operações de resgate, foram mostradas pela primeira vez imagens vídeo do interior do navio, recolhidas durante as buscas. Nenhum corpo apareceu. "Por favor, levantem o barco para podermos retirar os corpos", pediu ao microfone a mãe de um dos jovens desaparecidos. Alguns pais deram amostras de ADN às equipas de resgate para ajudar a identificar os corpos. "Park Geun-hye [presidente da Coreia do Sul] tem de regressar aqui", acrescentou, citada pela Reuters. A chefe de Estado visitou o local na passada quinta-feira. 

A forte corrente e o mau tempo têm sido o grande entreve às buscas. As três gruas instaladas no local não conseguiram ainda começar a operar. O porta-voz da Guarda Costeira, Kim Jae-in , adiantou ainda que só o farão quando for seguro. "Levantar o navio não significa que o iremos retirar completamente de água. Podem levantá-lo dois ou três metros", explicou. Foram colocadas também redes à volta do ferry para impedir que os corpos de afastem durante as operações. A esperança de encontrar sobreviventes em bolsas de ar é agora praticamente nula, disse fonte da Guarda Costeira citado pelo The Guardian
 

Notícia alterada às 12h05 com número actualizado de vítimas mortais

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