Balal foi salvo no último momento pelos pais do jovem que matou

Balal foi condenado à morte por enforcamento pelo assassinato de um jovem de 18 anos. Já estava vendado e de corda ao pescoço quando a mãe da sua vítima o salvou. No Irão, só este ano, a pena capital já terá sido executada 199 vezes, diz a Amnistia Internacional.

Fotogaleria
Balal no momento em que era levado para o cadafalso AFP/ARASH KHAMOOSHI/ISNA
Fotogaleria
Oficiais iranianos nos preparativos para a execução pública AFP/ARASH KHAMOOSHI/ISNA
Fotogaleria
A mãe de Balal (à esquerda) chora abraçada à mãe de Abdolah Hosseinzadeh depois de esta ter perdoado o filho AFP/ARASH KHAMOOSHI/ISNA
Fotogaleria
Mulheres iranianas rezam pelo perdão de Balal AFP/ARASH KHAMOOSHI/ISNA
Fotogaleria
Samereh Alinejad e Abdolghani Hosseinzadeh rezam junto à campa do filho, morto em 2007 AFP/ARASH KHAMOOSHI/ISNA

As fotografias mostram Balal em pé sobre uma cadeira, vendado e já com a corda em volta do pescoço.

As fotografias mostram Balal em pé sobre uma cadeira, vendado e já com a corda em volta do pescoço. De acordo com a aplicação literal das <i>qisas</i>, a tradição de retribuição da <i>sharia</i>, um dos familiares do rapaz que ele matou há sete anos estaria prestes a empurrar a cadeira e levá-lo também a ele à morte, por enforcamento. Mas Balal acabou por ser perdoado no último momento. Foi perdoado pelos pais da sua vítima — a mãe de Abdollah Hosseinzadeh, que tinha 18 anos quando foi morto à facada num confronto de rua na pequena cidade de Royan, na província de Mazandaran, bateu-lhe na cara; depois, ela e o marido tiraram-lhe a corda do pescoço.

Foi em Nowshar, no norte do Irão, no dia 15 deste mês, e na presença do fotógrafo Arash Khamooshi, da agência noticiosa Isna, que estava a seguir a execução pública desde o momento em que Balal foi arrastado para o cadafalso frente a uma multidão de mirones, entre os quais a sua mãe. Khamooshi fotografou também o momento em que esta foi abraçada em lágrimas pela mãe de Abdollah, que hoje teria 25 anos.

Segundo o diário britânico The Guardian, que primeiro publicou no Ocidente as fotografias de Khamooshi, a decisão da mãe de Abdollah foi tanto mais admirável no país que mais pessoas condena à morte, à excepção da China, porque a família tinha já antes perdido outro filho, ainda mais jovem — Amirhossein, morto num acidente de mota aos 11 anos.

"O meu filho Abdollah, de 18 anos, estava a passear no bazar com os seus amigos quando Balal o empurrou", contou à Isna, citado pelo Guardian, o pai da vítima de há sete anos. "O Abdollah ficou ofendido e deu um pontapé a Balal, e foi então que o assassino puxou da meia uma faca de cozinha."

O patriarca da família Hosseinzadeh chegou, no entanto, à conclusão de que Balal, que na altura teria pouco mais de 20 anos, não matou o seu filho deliberadamente, diz o jornal britânico. "Balal era inexperiente e não sabia manusear uma faca. Era naïf."

Segundo o pai de Abdollah, Balal fugiu da cena do crime, mas foi mais tarde encontrado pela polícia. O tribunal precisou de seis anos até decidir a sua condenação à morte, com a família do condenado a conseguir ainda indeferir algumas vezes a execução. A data do enforcamento terá ficado decidida perto do ano novo persa, o Noorotz, que este ano começou a 20 de Março.

Ainda citado pelo Guardian, o pai Hosseinzadeh explicou à Isna que um sonho fez a família recusar a condenação. “Há três dias, a minha mulher viu o meu filho mais velho num sonho a dizer-lhe que estava num sítio bom e para ela não retaliar… Isto acalmou a minha mulher e decidimos pensar melhor até ao dia da execução.”

Foi depois de muitas figuras públicas iranianas terem apelado ao casal, que tem ainda uma filha, para que perdoassem o assassino. Aconteceu. Mas, como recorda o Guardian, não implica que Balal fique agora em liberdade: segundo a lei iraniana, a família da vítima tem voto apenas no acto da execução, não na sentença de cadeia.

Duas execuções por dia
A Amnistia Internacional estima que só este ano já tenham sido executadas no Irão 199 condenações à pena capital, ao ritmo de quase duas por dia. Recorda também que no ano passado o Irão e o Iraque foram responsáveis por dois terços de todas as condenações à morte executadas no mundo, excluindo as chinesas.  

Segundo os dados da Amnistia, pelo menos 369 execuções foram oficialmente reconhecidas pelas autoridades iranianas em 2013, mas a organização acredita que centenas de outras tenham acontecido em segredo, elevando este número para perto de 700 mortes.

Tal como no caso de Balal, muitas das execuções no Irão são actos públicos com fotógrafos locais autorizados a documentar o momento a que chegam a assistir crianças.

Bahareh Davis, da Amnistia Internacional, disse ao Guardian: "É profundamente perturbador que a condenação à morte continue a ser vista como solução para o crime no Irão. A condenação à morte é não apenas a punição mais cruel, inumana e degradante sem qualquer impacto preventivo como a sua exibição pública perpetua uma cultura de aceitação da violência”.

"As execuções públicas são degradantes e incompatíveis com a dignidade dos condenados. Acresce que todos os que assistem a execuções públicas — o que lamentavelmente muitas vezes inclui crianças — são brutalizados com a experiência”, disse ainda Bahareh Davis.

O Guardian acrescenta que em Outubro do ano passado, um prisioneiro iraniano que sobreviveu a uma tentativa de execução foi reanimado na morgue e poupado a outra tentativa — um dos seus familiares terá feito saber que perdeu qualquer estabilidade mental, permanecendo preso.

 

 

 

 

 

 
 

 

 

Sugerir correcção
Comentar