Autoridades admitem que o maior mistério da aviação moderna poderá nunca ser desvendado

Operações de busca para encontrar o avião da Malaysia Airlines prosseguem em contra-relógio, pois a bateria das caixas negras do avião só dura seis semanas.

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Operações de busca podem prolongar-se por meses Greg Wood/Reuters

As autoridades encarregadas da investigação ao acidente com o avião da Malaysia Airlines admitiram esta quarta-feira, pela primeira vez, que as causas que levaram à perda do aparelho nas águas do oceano Índico poderão permanecer para sempre indeterminadas e que o “filme” dos derradeiros momentos do voo MH370 poderá nunca chegar a ser reconstituído.

Quase um mês passado desde que o avião desapareceu da vigilância do controlo aéreo, na fronteira entre a Malásia e o Vietname, ainda são mais as suposições e especulações do que as certezas relativamente aos acontecimentos daquele dia 8 de Março. O inspector-geral da polícia da Malásia garantiu que nenhum ângulo de investigação está a ser descurado e que “até as coisas mais minúsculas” estão a ser cuidadosamente escrutinadas: até, por exemplo, uma possível contaminação da comida servida a bordo.

As autoridades continuam a trabalhar no pressuposto de que o desvio do voo MH370 da rota foi uma “acção deliberada” e de que “alguém a bordo” foi responsável pela desconexão dos transponders – os aparelhos que transmitem os dados que permitem aos radares da aviação comercial identificar o aparelho em pleno voo – e pela inversão de marcha do avião, que foi confirmada por radares militares.

“As investigações estão em curso e vão prosseguir até que todos os detalhes tenham sido considerados. É preciso ficar muito claro: esta é uma investigação que demora e não pode ser apressada. Não podemos despachar o que estamos a fazer”, declarou o inspector-geral, general Than Sri Khalid Abu Bakar, numa conferência de imprensa em Kuala Lumpur. “E, no fim, pode ser que não seja possível descobrir a causa. Poderemos nunca vir a saber a razão para este acidente”, admitiu.

Um inquérito criminal mantém-se centrado no piloto e co-piloto, bem como em dez membros da tripulação, em busca de pistas: segundo informou o mesmo, a avaliação feita aos 227 passageiros que seguiram de Kuala Lumpur para Pequim, a maior parte dos quais de nacionalidade chinesa, não descobriu nenhum sinal de problemas pessoais ou psicológicos, nem nenhuma motivação política ou outra que justificasse o desvio ou a sabotagem do voo da Malaysia Airlines.

Também as operações de busca do avião, que envolvem meios de oito países, podem prolongar-se durante meses. “Não esperamos necessariamente encontrar destroços a flutuar, não podemos garantir que tudo estará resolvido dentro de uma ou duas semanas”, confirmou o marechal Angus Houston, o antigo chefe das Forças Armadas australianas que assumiu a coordenação da missão internacional. “Mas é de uma importância vital para os familiares, e também para os governos envolvidos na missão, que sejamos capazes de encontrar o avião”, notou.

Diferentes tipos de aeronaves civis e militares (incluindo, por exemplo, o jacto privado do realizador de cinema neozelandês Peter Jackson), vários navios e, desde ontem, um submarino nuclear e um outro submersível percorrem diariamente uma zona de buscas que se estende por mais de 250 mil quilómetros quadrados, sensivelmente a duas horas e meia de distância (de avião) da costa oeste da Austrália. Segundo o diário The Wall Street Journal, a alegada descoordenação e falta de comunicação entre as diversas equipas integradas na busca levaram a que durante vários dias estas se desenrolassem numa área “errada”. Um dos cientistas australianos que participam nos esforços disse à CNN que “encontrar uma agulha num palheiro é uma tarefa simples comparada com esta”.

Uma série de “objectos” detectados por satélites ou avistados a olho nu a partir do ar acabaram por se revelar pistas falsas: para já, não foi recolhida da água uma única “peça” pertencente ao avião desaparecido. Esta quinta-feira entrará em cena um sofisticado equipamento que permite a localização de “caixas negras” a grande profundidade – é uma corrida contra o tempo, uma vez que a bateria dos sinalizadores das caixas só dura seis semanas. E, sem outra forma de obter informação, só pelos registos das caixas negras será possível descobrir as condições em que o aparelho se despenhou e reconstituir as comunicações no cockpit.

A agonia dos familiares dos passageiros do MH370 deu entretanto lugar à frustração e agora à fúria: com a companhia aérea e as autoridades da Malásia, que acusam de divulgar informação contraditória e de forma caótica, levantando sérias dúvidas quanto à sua competência e credibilidade. Uma reunião entre os familiares, especialistas em aviação e representantes das autoridades, esta quarta-feira em Kuala Lumpur, não dissipou as desconfianças. “Eles dizem que há muitas possibilidades, mas parece que só estão a investigar uma. A verdade é que não nos forneceram informação convincente”, resumiu o representante das famílias, Steve Wang.

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