As "dez mentiras de Putin" são um crime e merecem castigo no site do Departamento de Estado norte-americano

Lista publicada no site do Departamento de Estado norte-americano tem como objectivo contrariar a "narrativa falsa" de Moscovo "para justificar as suas acções ilegais na Ucrânia". Rússia fala em "propaganda de baixo nível".

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O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante a conferência de imprensa de terça-feira RIA NOVOSTI/AFP

Quando se olha para o conflito na Crimeia, os acontecimentos passam rapidamente de verdades absolutas a propaganda fabricada pelo lado oposto, consoante o ponto de vista do observador. Para deixar claro qual é o seu, que é partilhado com os governos da União Europeia, os Estados Unidos escreveram "A ficção do Presidente Putin: dez alegações falsas sobre a Ucrânia".

É uma lista, como se percebe pelo título, mas tem referências à literatura russa e uma pitada de sarcasmo, o que não é comum num comunicado do Departamento de Estado norte-americano. É também uma resposta ao tom desafiador da conferência de imprensa do Presidente Vladimir Putin, na terça-feira, que deambulou entre a "sagacidade mordaz, a raiva e um desdém palpável, especialmente direccionado a americanos e europeus", como escreveu o The New York Times.

"No momento em que a Rússia fabrica uma narrativa falsa para justificar as suas acções ilegais na Ucrânia, o mundo já não assistia a uma ficção russa tão sensacional desde que Dostoievski escreveu que 'a fórmula dois mais dois igual a cinco tem o seu apelo'", lê-se no comunicado do departamento responsável pelas relações externas dos EUA.

Em seguida, são listadas "dez das recentes alegações do Presidente Vladimir Putin para justificar a agressão da Rússia na Ucrânia", contrapostas com "os factos que as suas alegações ignoram ou distorcem".

Em primeiro lugar, os EUA contestam o argumento de que o único objectivo das forças russas na Crimeia é proteger as suas instalações militares e que a tomada de outras infra-estruturas é da responsabilidade de "grupos de defesa dos cidadãos". "Os factos", afirma o Departamento de Estado norte-americano, contam uma história diferente, com base em "fortes indícios de que elementos dos serviços secretos russos estão no centro das forças anti-Ucrânia na Crimeia, que têm um elevado grau de organização".

"Apesar de estas unidades usarem uniformes sem sinais distintivos, os seus elementos circulam em veículos com matrículas russas e apresentam-se como membros das forças de segurança da Rússia quando são questionados pelos media internacionais e pelos militares ucranianos. Para além disso, estes indivíduos têm armas que não estão ao alcance de civis", afirma o Departamento de Estado norte-americano.

Entre os outros pontos, que podem ser consultados no site do departamento liderado por John Kerry, destacam-se a legitimidade e as intenções do Parlamento e do Governo ucranianos, que Putin pinta como tendo sido concebidos com um golpe de Estado por grupos da extrema-direita.

"O Rada [Parlamento ucraniano] é a instituição mais representativa da Ucrânia. A recente legislação foi aprovada com largas maiorias, que incluíram deputados do Leste da Ucrânia. Os grupos da extrema-direita ultranacionalista, alguns dos quais estiveram envolvidos nos confrontos com as forças de segurança durante os protestos na Maidan, não têm representação no Parlamento. Não há qualquer indicação de que o Governo ucraniano irá aprovar políticas discriminatórias; pelo contrário, têm afirmado precisamente o oposto", afirma o Departamento de Estado dos EUA. Neste ponto, as autoridades norte-americanas fazem uma distinção entre o partido nacionalista Svoboda (que tem 36 deputados no Parlamento e cinco ministros no Governo ucraniano) e grupos da extrema-direita de inspiração nazi como o Sector Direito, formado durante os protestos contra Viktor Ianukovich.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, já comentou o texto do Departamento de Estado norte-americano, descrevendo-o como um "exercício de cinismo". A Rússia considera que a lista com as "alegações falsas sobre a Ucrânia" atinge Moscovo "não tanto pela sua deformação primitiva da realidade, mas mais pelo seu cinismo", e é "propaganda de baixo nível".

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