Cinco civis mortos em confrontos na Ucrânia

Autoridades deram ultimato para que os confrontos terminem, caso contrário avançam para medidas "mais fortes".

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Um fotógrafo ficou ferido e foi hospitalizado Gleb Garanich/Reuters
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A violência voltou às ruas de Kiev nesta terça-feira Sergei Supinsky/AFP
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Milhares de manifestantes cercaram o Parlamento Vlad Sodel/Reuters
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Os manifestantes chegaram a ocupar o edifício do Partido das Regiões Maksym Kudymets/Reuters
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Os manifestantes utilizaram sobretudo pedras e cocktails molotov para atacar a polícia de choque Gleb Garanich/Reuters

As imediações do Parlamento ucraniano foram nesta terça-feira palco de confrontos entre a polícia e milhares de manifestantes, que tentaram romper o cordão de segurança para chegarem mais perto do edifício. A polícia afirmou, citada pela AFP, que "cinco civis foram mortos".

Algumas horas antes, a deputada do partido da oposição Pátria, Lesia Orobets, tinha revelado que três pessoas morreram. "Três corpos de apoiantes nossos estão no edifício. Outros sete estão perto de morrer [por causa dos ferimentos]", escreveu a deputada na sua página do Facebook, segundo a Reuters. Um responsável médico dos manifestantes corroborou a informação, de acordo com a rádio Free Europe.

Os confrontos fizeram pelo menos 150 feridos, dos quais 30 estão em estado grave, segundo a AFP, que cita Oleg Moussi, responsável médico dos manifestantes. Do lado da polícia ficaram 37 agentes feridos.

Na manhã desta terça-feira, os manifestantes foram travados a cerca de 100 metros do Parlamento por uma fila de camiões e começaram a lançar pedras contra a polícia, que respondeu com balas de borracha, canhões de água e granadas de fumo, segundo o relato da agência Reuters.

A AFP avança que um fotógrafo ficou ferido e foi hospitalizado e que dois camiões colocados pela polícia foram queimados por manifestantes. Os meios de comunicação locais referem "dezenas de feridos" e vários manifestantes têm revelado fotografias de balas de borracha e de metal que terão sido utilizadas pela Berkut, a polícia anti-motim.

Caso os confrontos não cessem até às 18 horas locais (16h em Portugal), as forças de segurança garantiram, através de um comunicado, que vão recorrer a "medidas mais fortes" para restaurar a ordem.

Há receios de que o estado de emergência possa ser declarado e o exército, que até agora se tinha mantido de parte dos protestos, possa intervir.

Em resposta, os membros do grupo "Sector Direito" - uma organização para-militar nacionalista que tem estado por trás das acções mais violentas - apelaram à mobilização dos "cidadãos proprietários de armas para se juntarem na Maidan [Praça da Independência] e formarem uma unidade para proteger as pessoas daqueles que servem este regime criminoso".

Manifestação pacífica degenerou

Tudo começou com uma acção pacífica de protesto, convocada na véspera pelos próprios líderes da oposição. Cerca de 20 mil pessoas concentraram-se em frente ao Parlamento ucraniano, mas rapidamente estalaram os primeiros confrontos.

A multidão tentava aproximar-se do edifício para voltar a pressionar os deputados a aprovarem uma revisão constitucional que reduza os poderes do Presidente. Os três partidos da oposição – o Udar, o Svoboda e o Batkivshchina – anunciaram que iriam exigir nesta terça-feira o regresso à Constituição de 2004, mas a maioria que suporta o Presidente Viktor Ianukovich recusou-se a incluir a discussão na sessão parlamentar.

Ao mesmo tempo, um grupo de entre 200 a 300 manifestantes invadiu durante algum tempo a sede do Partido das Regiões, ao qual pertence o Presidente, depois de terem atirado cocktails molotov ao edifício. Segundo a AFP, o grupo abandonou as instalações assim que a polícia anti-motim chegou ao local.

Um funcionário do serviço de manutenção do edifício foi morto durante os confrontos, segundo um comunicado de imprensa do Partido das Regiões, citado pela Interfax-Ucrânia.

O líder do Udar, Vitali Klitschko, apelou a Ianukovich para que remova a polícia de choque das ruas, de acordo com a Reuters. "Será a decisão de um verdadeiro homem", afirmou Klitschko aos jornalistas presentes no Parlamento ucraniano.

Klitschko também criticou a decisão do Presidente do Parlamento em não incluir a revisão constitucional na ordem de trabalhos da sessão desta terça-feira. "Há uma grande probabilidade de que a maioria possa votar pelo regresso à Constituição de 2004 e as autoridades estão com medo disso", afirmou, citado pelo jornal de língua inglesa Kyiv Post.

A Constituição ucraniana de 2004, aprovada após a Revolução Laranja, favorecia uma maior partilha de poderes entre o Presidente e o Parlamento. Foi Ianukovich que promoveu uma revisão constitucional, em Novembro de 2010, que conferiu um pendor presidencialista ao sistema político do país.

O regresso à violência nas ruas de Kiev acontece depois de um período de relativa acalmia. Nas últimas semanas, oposição e Presidente estiveram envolvidos em várias negociações, em que foram repelidas as leis anti-protesto, o Governo foi demitido e foi concedida uma amnistia aos detidos durante os protestos.

No entanto, as reivindicações nucleares dos opositores a Ianukovich - a revisão constitucional e a marcação de eleições antecipadas - não foram atendidas, causando forte exasperação no seio dos manifestantes, que há quase três meses ocupam a Praça da Independência.

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