Mau tempo atingiu de madrugada Coimbra, Aveiro e Porto

Protecção Civil registou 2259 ocorrências desde a tarde de domingo. Durante a madrugada, a tempestade deslocou-se de sul para norte.

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Apesar da agitação marítima, o mau tempo não fez estragos significativos junto à costa Daniel Rocha
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Daniel Rocha

“O pior já terá passado”, mas os distritos de Coimbra, Aveiro e do Porto, principalmente junto ao litoral, ainda estarão a sentir os efeitos da intempérie que ao longo deste domingo e início de segunda-feira afectou principalmente Lisboa, Setúbal e Coimbra.

“A superfície frontal deslocou-se de sul para norte”, pelo que, apesar de Lisboa ter registado o maior número de ocorrências desde que foi lançado o alerta vermelho, às 9h de domingo, foi no Centro e Norte que as necessidades de intervenção dos bombeiros se concentraram entre as 3h e as 8h desta segunda-feira, explicou Marco Martins, adjunto-nacional da Protecção Civil.

Ao longo de 23 horas, a Protecção Civil registou 2259 ocorrências que obrigaram à intervenção de 8767 operacionais. As quedas de árvores e dos mais variados tipos de estruturas foram os incidentes mais frequentes (1616 e 377 casos, respectivamente), mas também se verificaram situações de movimentos de terras (114) e inundações (99). A necessidade de limpeza de vias obstruídas por terra, árvores ou neve estiveram na origem de 103 do total das intervenções registadas. A expectativa é que às 14h desta segunda-feira se registe uma acalmia, em todo o país, adiantou Marco Martins.

A meteorologista Paula Leitão, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), alertou na manhã desta segunda-feira que a um período de acalmia se seguirá um agravamento do estado do tempo, já a partir das 0h desta terça-feira, com chuva e vento forte a norte do sistema Montejunto-Estrela, no litoral e nas terras altas.

Os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro estão sob aviso laranja, o segundo mais grave de uma escala de quatro, entre as 8h e as 21h desta segunda, com ondas de 5 a 7 metros, diminuindo depois gradualmente a altura. Estes distritos vão passar a aviso amarelo entre as 21h e as 23h59 de terça-feira, o segundo menos grave de uma escala de quatro, prevê o IPMA. Os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda e Castelo Branco estão até às 18h desta segunda-feira sob aviso amarelo devido à queda de neve acima dos 600 metros.

O IPMA colocou também todos os distritos de Portugal continental e o grupo Ocidental dos Açores(Flores e Corvo) sob aviso amarelo até ao final do dia de terça-feira por causa do vento forte, prevendo vento de noroeste, passando a sudoeste, com rajadas da ordem dos 100 quilómetros/hora nas terras altas. A Madeira passa a estar igualmente sob aviso amarelo a partir das 12h,  por causa da agitação marítima (estão previstas ondas de noroeste, com 5 a 6 metros, passando a vagas de noroeste, com 4 a 5 metros).

Entretanto, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém subiu para amarelo o nível de alerta do Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, dada a probabilidade de "aumento significativo nas descargas das barragens". Isto, porque, justificou, as informações disponibilizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e pela EDP Produção apontam para o aumento das descargas nas barragens do Fratel, Pracana e Castelo do Bode, bem como das barragens espanholas, devido à forte precipitação que se tem feito sentir nas bacias dos rios Zêzere e Tejo.

Nesta segunda-feira, no momento do último balanço, às 8h, Lisboa, com 434 ocorrências, e Setúbal, com 310, eram os distritos mais atingidos pelas intempéries. Seguiam-se Coimbra (262), Aveiro (193) e Porto (140), onde o vento e a chuva fortes ainda estavam a provocar problemas.

Contudo,  levantamento dos estragos ­– que no domingo obrigou ao adiamento do derby Benfica-Sporting e à alteração ou cancelamento de voos – ainda está ser feito. 

Esta manhã, em declarações à agência Lusa, o subchefe Luis Pelengana, dos Sapadores Bombeiros de Lisboa, comentava que a madrugada “até foi calma”, tendo em conta que entre as 0h e as 8h se registaram 43 ocorrências — menos do que as 53 que obrigaram à intervenção da corporação num espaço de apenas três horas, entre as 20h e as 23h de domingo.

Já no Porto, a primeira parte desta segunda-feira ficou marcada por quedas de árvores, painéis, telhas, toldos, clarabóias e outras estruturas, mas também por inundações, consequências do vento forte e da chuva intensa que se fizeram sentir. Fonte do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) do Porto especificou que se registaram cerca de 90 ocorrências nesta madrugada.

No distrito de Viseu também se registaram quedas de árvores, mas foi a neve que obrigou ao corte do trânsito nas Estradas Nacionais 2, entre Bigorne e Lamego, e 321, entre Castro Daire e Cinfães, indicou fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro daquele distrito.

No concelho de Montalegre, no distrito de Vila Real, as escolas não chegaram a abrir esta segunda, devido, também, à queda de neve e à formação de gelo, disse à Lusa o presidente da câmara local, Orlando Alves. "Não estavam reunidas as condições de segurança para os transportes escolares circularem. Era muito arriscado", explicou.

Naquele concelho, o comandante dos Bombeiros de Montalegre, David Teixeira avisou que os condutores devem ter "muitas" precauções e atenção redobrada.

O mesmo pedido, de cuidados especiais, foi feito pela protecção civil municipal da Guarda. Pelas 9h10, as ruas da cidade estavam todas transitáveis, mesmo as mais inclinadas, mas as equipas do serviço de protecção civil municipal e os bombeiros ainda procediam ao espalhamento de sal para derreter a neve que regressou à cidade mais alta do país. Ora neva, ora para e surge o sol", descreveu o vereador Sérgio Costa, indicando que os serviços estão atentos ao evoluir da situação.

A Sul, no Alentejo, registaram-se entre as 22h de domingo e a manhã de segunda-feira perto de 30 quedas de árvores e danos em cabos de electricidade , indicaram fontes dos centros distritais de operações de socorro à Lusa.

Ao longo da manhã têm vindo a ser conhecidos com mais pormenor os estragos e acidentes causados pelo mau tempo, um pouco por todo o país. Em Lisboa, a escola do 1º ciclo do ensino básico de Moinhos do Restelo foi encerrada por motivos de segurança depois de um pinheiro de grande porte ter caído sobre o telhado da cozinha; no edifício social da Meadela, que alberga cerca de 40 famílias da cidade de Viana do Castelo, o vento levantou o telhado e fez voar algumas telhas, assustando os moradores; no concelho de Alenquer, um muro de uma escola desactivada das Paredes ruiu parcialmente; em Peniche, a forte agitação marítima obrigou ao corte da Marginal Norte até às 9h; em Mafra, os fortes ventos danificaram a cobertura do parque de estacionamento de um hipermercado; no Fundão, distrito de Castelo Branco, o telhado do salão de festas de Atalaia do Campo ficou "praticamente destruído"; na Marinha Grande e em Pombal veículos colidiram com árvores caídas nas estradas, provocando cinco feridos; na serra de Sintra, onde terão caído mais de 100 árvores, ainda há estradas fechadas ao tráfego.

 

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