Rússia exige que ONU analise vídeos e opiniões desacreditadas sobre ataque químico em Damasco

Relatório dos inspectores da ONU é “incompleto” e "politizado", diz Moscovo

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Serguei Lavrov voltou a impor o bloqueio russo no Conselho de Segurança PHILIPPE DESMAZES/AFP

A Rússia lançou um manto de suspeição sobre o relatório dos inspectores dos Nações Unidas que concluiu ter sido usado gás sarin em Ghutta, nos arredores de Damasco, no dia 21 de Agosto. Quer que o Conselho de Segurança da ONU analise, a par do trabalho dos cientistas que aponta para a culpabilidade do regime de Damasco, vídeos e testemunhos já descredibilizados postos online.

Os cálculos sobre a trajectória dos projécteis que traziam sarin encontrados no local dos ataques mostram que só poderiam ter vindo de locais onde estão forças de Bashar al-Assad? Isso não parece interessar ao ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, que afirmou que a investigação estava incompleta se não fossem levadas em conta outras fontes que tiveram muita divulgação na Rússia.Por exemplo, os comentários de bloggers ligados ao Hezbollah que afirmavam que alguns dos vídeos do ataque químico de 21 de Agosto que tinham sido colocados no You Tube tinham data de 20 de Agosto — conseguiam a proeza de terem sido filmados antes de terem acontecido, afirmavam. Mas esta incoerência é apenas aparente,
explica o New York Times. Tem a ver com a forma como o YouTube põe data nos vídeos: sempre com a hora da Califórnia, onde são dez horas mais cedo do que em Damasco.Apesar de esta teoria da conspiração ter sido desacreditada, a Rússia insiste que seja levada em consideração pelos líderes mundiais, bem como os comentários da freira carmelita nascida no Líbano Agnes Mariam de la Croix. Ela fez uma
análise muito confusa — e pode-se dizer, predisposta a crer que o ataque tinha sido encenado pela oposição — que foi citada nos media russos, e por sites e comentadores de direita norte-americanos, como Rush Limbaugh. O seu convento fica a Norte de Damasco, distante do local dos bombardeamentos químicos, portanto não é sequer testemunha directa — mas a Rússia faz questão de que as suas opiniões sejam consideradas.“Os inspectores [da ONU] prepararam o seu relatório de maneira selectiva e incompleta, sem levar em conta os elementos que vários vezes lhes indicámos”, declarou esta quarta-feira, de visita a Damasco, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, Serguei Riabkov. Disse ter levado novos elementos de prova para a tese síria e russa de que o ataque de 21 de Agosto foi uma provocação da oposição armada. Fazendo-se porta-voz da insatisfação russa e síria da interpretação que Estados Unidos, França e Reino Unido fizeram do trabalho dos inspectores no terreno, Riabkov afirmou que a ONU tirou “conclusões politizadas, preconceituosas e unilaterais”.
As Nações Unidas mantêm-se firmes quanto à validade do relatório produzido pelos cientistas. “Estas declarações são uma tentativa para pôr em causa a equipa de investigadores liderada pelo professor Ake Sellström e um relatório objectivo. Os dados são indiscutíveis e falam por si”, afirmou Martin Nesirky. porta-voz do secretário-geral da ONU.

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