Edward Snowden esperava acusação por "crimes graves"

Diário britânico divulga novo video da entrevista com o ex-consultor da CIA que expôs o programa de espionagem dos Estados Unidos.

Foto
Novo video de sete minutos foi hoje divulgado Laura Poitras/The Guardian/Reuters

Edward Snowden, o analista informático e ex-consultor da CIA que está por trás da divulgação do esquema de vigilância electrónica dos Estados Unidos, estava à espera de ser acusado pela justiça norte-americana depois de passar documentos classificados como “ultra-secretos” pelo Pentágono.

O diário britânico The Guardian acaba de divulgar um segundo excerpto da entrevista conduzida em Junho num hotel de Hong Kong, antes de Snowden ser publicamente identificado como a fonte das notícias relativas aos programas de espionagem levados a cabo pela Agência Nacional de Segurança.

Logo na primeira pergunta, o analista, que actualmente se encontra num aeroporto de Moscovo, esclarece que sabia que os Estados Unidos o iriam acusar de “crimes graves”, nomeadamente de ter violado a lei de espionagem e de ter auxiliado os inimigos do seu país.

“Essa mesma acusação pode ser formulada contra qualquer pessoa que revele informação relativa a sistemas de vigilância massivos”, explica. Snowden já foi formalmente acusado pela justiça norte-americana, é agora um fugitivo à espera de resposta a mais de 20 pedidos de asilo político.

No vídeo, de cerca de sete minutos, Snowden desmente que tenha planeado divulgar segredos dos Estados Unidos e traça o seu percurso dentro do aparelho de segurança: do momento em que se alistou no Exército, pouco depois da invasão do Iraque – “Acreditava na bondade do que estávamos a fazer e na nobreza das nossas intenções de libertar povos oprimidos no estrangeiro”, explica – até ao momento em que passou a ter acesso a informação em bruto e que, segundo diz, ainda “não tinha sido propagandeada pelos media”.

“Percebi que estava envolvido numa operação para enganar o público, para criar um determinado estado de espírito”, recorda, considerando que foi “uma vítima” – um pouco à semelhança do Congresso, a quem os dirigentes da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) mentiram na resposta aos pedidos de informação sobre os programas de vigilância interna.

O analista explica ter sentido a “obrigação de agir” depois de perceber que a nova liderança do país não iria “corrigir os excessos de governos anteriores” – no excerpto divulgado, Snowden não refere o Presidente Barack Obama explicitamente. “Tentei fazer o meu trabalho e seguir as orientações políticas, esperando que os líderes percebessem que estávamos a ir longe demais, mas não só nada se passou, como ainda se fez pior”, refere.

Bolívia convoca embaixadores

Entretanto, o Governo da Bolívia convocou ontem os embaixadores de Portugal, Espanha, França e Itália, para prestarem explicações oficiais sobre a proibição dos respectivos governos à passagem do avião de Evo Morales pelo seu espaço aéreo. Classificando a medida como “terrorismo de Estado”, a ministra da Comunicação, Amanda Davila, informou que o Governo pediu que os diplomatas estrangeiros clarificassem “de onde surgiu a versão de que o senhor Snowden viajava a bordo do avião presidencial. Quem espalhou essa falácia, essa mentira?”, questionou.

Em Cuba, o Presidente Raúl Castro manifestou total solidariedade com a posição dos países latino-americanos que ofereceram asilo a Snowden, nomeadamente a Venezuela, a Bolívia e a Nicarágua. “Apoiamos o direito soberano da Venezuela e de todos os Estados da região em oferecer asilo a todos os que são perseguidos pelos seus ideais ou pela sua luta por direitos democráticos”, disse Castro num discurso à Assembleia Nacional citado pelo jornal estatal Juventud Rebelde.

Sugerir correcção
Comentar